Editorial

Consciência e vontade

A chamada insegurança alimentar é apenas mais um fruto da insensibilidade, se não da mais completa insanidade
Consciência e vontade
Foto: Reprodução Adobe Stock

“Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio de ação governamental, mas governos só podem agir se dispuserem de meios e no entendimento de que não basta produzir, é preciso distribuir e poucas iniciativas contribuiriam tanto para a segurança alimentar quanto uma reforma da arquitetura financeira internacional que direcionasse recursos para quem mais precisa”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi uma das figuras centrais do Fórum Mundial da Alimentação, promovido pela Organização das Nações Unidas e realizado em Roma na semana que está terminando. Seu discurso, do qual foi extraído o parágrafo de abertura desse comentário, desnuda a realidade incômoda e ao mesmo tempo demonstra como seria possível mudar para melhor. Uma questão, afinal, de consciência e de vontade, muito menos que propriamente de meios que, afinal, existem e estão ao alcance de quem assim desejar.

E a partir, evidentemente, da questão central da busca de mais adequada e justa distribuição da renda, do produto, afinal, do trabalho coletivo. E no entendimento pleno de que menos concentração significará, para além de melhores condições de vida para os excluídos, mais e maiores oportunidades de negócios, multiplicados assim benefícios coletivos. O presidente brasileiro, ouvido com atenção e muito aplaudido ao final de sua fala, apenas clamou ao bom senso, especialmente ao repetir que os gastos militares somaram, no ano passado e em todo o planeta, entre 2,5 e 3 trilhões de dólares e apenas uma fração desses recursos, algo equivalente a menos de 10% do total, bastaria para que não mais existissem pratos vazios diante de qualquer pessoa no planeta.

A chamada insegurança alimentar, algo como um eufemismo que ajuda a esconder a dura realidade da fome extrema para centenas de milhões de indivíduos, é apenas mais um fruto da insensibilidade, se não da mais completa insanidade que não se reflete somente nas guerras e na morte em escala industrial. E a própria Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO demonstra que apenas a redução do desperdício e das perdas de alimentos seria bastante para riscar do planeta a fome.

A realidade, de um lado, e as evidências de que existem soluções ao alcance da vontade, de outro, apenas expõe as proporções do absurdo, ao mesmo tempo em que desnuda a responsabilidade coletiva.

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