Editorial

Conta que não fecha: na administração pública é preciso não só aprender a gastar menos, como a gastar melhor

No Brasil, ainda há a persistência em buscar o caminho do aumento das receitas como rota possível para equilibrar as pontas públicas
Conta que não fecha: na administração pública é preciso não só aprender a gastar menos, como a gastar melhor
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Apesar dos maus ventos que sopram de fora, em tese o bastante para mobilizar toda a administração federal e com lugar de destaque para o Ministério da Fazenda, pelo menos nas aparências são outras as preocupações na pauta do ministro Fernando Haddad. Caso explícito da reconstrução do equilíbrio fiscal e da meta do déficit zero, pautas que não aparecem hoje no primeiro plano, mas prosseguem, pelo menos no discurso, como absolutamente prioritárias, tudo na elementar convicção de que não existe mesmo fórmula que sustente, indefinidamente, gastos maiores que despesas.

Existe entendimento, mas, ainda, teimosa persistência em buscar o caminho do aumento das receitas como rota possível, até mais curta, na direção do objetivo pretendido. E sem o consequente entendimento de que, independentemente até do resultado que possa ser alcançado, a coluna dos gastos e despesas também reclama atenção, porque é espaço onde seria possível chegar ao sucesso até mais rapidamente. Um exercício, afinal, de disciplina e de necessário aprendizado para quem aceita a ideia de que é sempre possível gastar menos, mesmo que a rota implique em alguns incômodos para os gestores públicos mal acostumados, além de obstáculos da parte de quem não quer conviver exatamente com restrições que não costumam ser próprias do ambiente público, bem ao contrário do que ocorre na iniciativa privada.

Uma afirmação que encontra respaldo no conhecimento de dados recentes, relativos a despesas, no âmbito da administração federal, com viagens. Para saber, conforme divulgado no final de semana, que gastos com viagens, internas e externas, já somam, no exercício, R$ 800 milhões. Não é pouco. Viagens domésticas representam 85% do total, com destaque para deslocamentos entre Brasília e Rio de Janeiro. Gastos totais com passagens chegaram R$ 246 milhões, enquanto o pagamento de diárias alcançou R$ 435 milhões, diferença que não tem como deixar de chamar atenção. Principalmente para quem sabe que critérios para tais pagamentos costumam ser tão elásticos quanto convenientes do ponto de vista dos beneficiários.

Uma conclusão que remete à ideia de que na administração pública é preciso aprender a gastar menos tanto quanto aprender a gastar melhor, o que por óbvio recomenda igualmente atenção aos vazamentos e possíveis desvios. Uma soma de esforços, afinal, um tanto elementar, mas que certamente ajudaria o ministro Fernando Haddad a se aproximar, pelo exemplo, dos objetivos que ele próprio traçou.

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