Contas que não fecham

Enquanto urgências vão sendo estabelecidas, nos campos da política e da administração pública, por conta de interesses menores as grandes questões nacionais permanecem de lado, adormecidas ou esquecidas. Nesse rol devem ser incluídas e assim relembradas discussões e providências relativas à retomada do equilíbrio fiscal que, a essas alturas e se consideradas promessas feitas em palanques, já deveria estar de pé, afastadas tanto a gastança desmedida quanto pecados bem mais graves. Precisamente, aqueles cometidos por gente que tem as chaves do cofre, mas aparentemente não entende como pertinente o elementar controle das saídas.
Uma situação bastante antiga e que, mesmo colocada sob as luzes de holofotes de tempos em tempos, não é alterada na sua essência. Cortar e controlar, percebe-se, implica em incômodos e inconveniências que minimamente afasta olhares mais vigilantes, mesmo daqueles que deveriam perceber tal atitude como dever elementar. Não aconteceu, não acontece, e as promessas vão sendo esquecidas e, tanto pior, na mesma medida em que velhos hábitos são mantidos, num processo contínuo de sucção que parece fora de controle.
Nessa condição, precisamente deveria ser percebido o caso de um ex-delegado de polícia do Rio de Janeiro, acusado de coagir lojistas estabelecidos na cidade de Petrópolis ao pagamento de propinas, além de obstrução da Justiça, integrar organização criminosa, promover lavagem de capitais, apresentar laudo falso e inserir dados falsos em sistemas públicos. Ao fim e ao cabo uma bela folha corrida, porém não o suficiente para impedir que receba R$ 517 mil por conta de férias acumuladas, mesmo que esteja preso desde 2021. Absolutamente não se trata de caso isolado e que na essência pouco difere, por exemplo, do destino de magistrados que perdem seus cargos, são removidos, porém sem qualquer prejuízo relevante para seus vencimentos.
Uma realidade que deveria incomodar e provocar mudanças, o que, no entanto, ainda parece longe de acontecer. Uma realidade que em muito contribui para a contínua sangria dos cofres públicos e dá razão aos que tentam demonstrar que, além de gastar muito, para além de suas possibilidades, o Estado brasileiro gasta muito mal. Contas em estado de mínimo equilíbrio, menos ainda a construção, também necessária, de superávits passa a ser algo mais próximo de miragens.
E tudo isso porque, afinal, os que teriam o poder de efetivamente suprimir tantos erros, tantos e tamanhos maus hábitos, são os mesmos que deles de beneficiam.
Ouça a rádio de Minas