Contas públicas: será necessário realizar uma mudança de hábitos

Um princípio elementar e absolutamente incontornável ensina que só será possível manter abastecida uma caixa d’água se o cano de saída foi menor que o de entrada. O paralelo com a gestão de dinheiro, seja as contas de uma dona de casa, de uma empresa ou na esfera pública é igualmente de fácil compreensão, ainda que poucas vezes seguido à risca, assunto que ultimamente tem ocupado as atenções dos brasileiros. As contas públicas, o que entra e o que sai, prosseguem em situação de desequilíbrio, exatamente porque não foi bem feito o exercício elementar de bem controlar receitas e despesas, atividade um tanto incômoda para quem trafega e depende dos labirintos da política.
O atual governo, ciente do desajuste acumulado ao longo do tempo, chegou ao poder prometendo disciplina e a retomada do equilíbrio. Fez algum progresso, cabe reconhecer, mas ainda permanece, mesmo depois dos cortes de despesas recém-anunciados, em posição ainda distante do necessário. Ajudando assim também a alimentar especuladores e opositores, com danos colaterais que igualmente deveriam ser melhor considerados. Na verdade, todos os movimentos, o que foi dito e o que deixou de ser dito, sugerem que não se trata exatamente de cortar esta ou aquela despesa. Fácil entender como impositiva é uma mudança de atitude da qual não pode ser percebido qualquer sinal.
Para ilustrar: dia destes foi condenado a 14 anos de prisão um suboficial da Marinha, acusado de participação nos acontecimentos de 8 de janeiro. Na sua versão, ele seria apenas um turista passeando em Brasília e que um tanto candidamente aproveitara a invasão para conhecer o Palácio do Planalto. Condenado, concluído todo o processo legal, será expulso da Marinha, porém seus dependentes não perderão a pensão a que o oficial faz jus, hoje em torno dos R$ 13 mil. Outros militares, inclusive mais graduados, na mesma situação esperam o beneficio.
Um exemplo, daqueles que merecem ser rotulados como do mais extremo absurdo, mas que permitem compreender como e porque as contas públicas refletem consumado desastre. Assim nunca haverá dinheiro que chegue. Ou alguém teria se lembrado de dar outra ocupação aos funcionários regiamente pagos no Supremo Tribunal Federal apenas para arrumar as cadeiras dos senhores ministros?
Eis o entendimento de que não basta arrumar contas, muito menos com arranjos quase sempre duvidosos. O que contaria mesmo, o que precisa acontecer, é uma completa e definitiva mudança de hábitos.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Ouça a rádio de Minas