Por que a realização da Copa do Mundo de Futebol Feminino no Brasil gera mais dúvidas que certezas

Conforme anunciado, o Brasil receberá a décima edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, com início marcado para junho de 2027, provavelmente no Maracanã, Rio de Janeiro. Conforme o anúncio da Federação Internacional de Futebol (Fifa), a competição terá duração de um mês, envolvendo possivelmente 10 cidades, inclusive Belo Horizonte, e três dezenas de seleções. Tem quem comemore, imaginando que o Brasil será alvo das atenções globais, numa exposição que se traduza em prestígio internacional e bons negócios, especialmente na esfera do turismo. E tem também quem se preocupe, principalmente porque ainda tem na memória o que foi dito nos anos de 2011 e 2012, quando conhecida a escolha do País para sede da Copa masculina de 2014.
À época o País foi tomado ou induzido a um estado de mais completa euforia. Estaríamos no centro do mundo para ocupar definitivamente lugar de destaque. Investimentos pesados seriam necessários, porém fartamente compensados pelos ganhos, a começar do incremento das atividades turísticas. Estádios teriam que ser reformados ou construídos, assim como infraestrutura de transportes e hotelaria. Belo Horizonte, por exemplo, ganharia entre muitas outras coisas uma linha de metrô ligando o centro da cidade ao Mineirão. Um legado, enfim, a ser perenizado, justificando toda a euforia e todos os gastos.
O DIÁRIO DO COMÉRCIO, usando este mesmo espaço, estava entre os poucos que não se deixaram contaminar pela euforia, desacreditando do custo-benefício tão alardeado. As coleções deste jornal, de fácil acesso e disponíveis, guardam o que foi dito à época e que a realidade posterior não só confirmou como fez ver que as críticas quase solitárias foram até indulgentes com tudo que aconteceu ou deixou de acontecer. Embora as imagens da delegação brasileira festejando o anúncio na sexta-feira passada igualmente remetam aos acontecimentos anteriores agora as manifestações foram bem mais discretas.
Ninguém ousa falar em investimentos diretos, ninguém está prometendo um metrô para Belo Horizonte ou falando do “legado” da Copa de 2027. Até porque, parece bem mais fácil apontar dúvidas que certezas. Como negócio, como atração, o futebol feminino tem crescido, o que é saudável, mas ainda são poucas as comparações plausíveis com a competição masculina. O “negócio” está em outra escala e muitíssimo mais modesta, sendo de se esperar que pelo menos algum censo de realidade prevaleça. Para que a ressaca não seja também mais uma grande frustração.
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