Corte de verba para radares pode colocar vidas em risco

Tendo ignorado anos a fio o elementar princípio financeiro segundo o qual a coluna de saídas não pode ser maior que a de entradas, o Brasil encontra-se diante de situação um tanto delicada. E, além de ter que conviver com um desequilíbrio orçamentário de proporções claramente ameaçadoras, deve, e compulsoriamente, contingenciar despesas mesmo em setores críticos, passando pela educação, saúde e segurança pública, áreas críticas para a sociedade e para a própria administração pública. E tudo isso sem sinais claros, verdadeiramente animadores, de que indícios de melhora possam ser percebidos logo à frente. Parece, afinal, ser mentira que não existam males que sempre durem.
É neste ambiente de desânimo, além de preocupações que deveriam bastar para mobilizar a sociedade e que de fato possa apontar melhores caminhos, que chega a notícia de que 4 mil radares de controle de velocidade estão inativos desde janeiro passado em 20 mil quilômetros de rodovias federais.
Candidamente o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informa que os contratos de locação dos equipamentos estão suspensos por falta de recursos para assumir os encargos correspondentes. As verbas com tal destinação somariam, hoje e conforme dados oficiais, aproximadamente R$ 3 milhões enquanto o necessário para assegurar a normalidade desses serviços vai além dos R$ 300 milhões.
São informações que vieram à tona nestes dias diante da determinação da Justiça Federal, endereçada ao próprio Dnit e ao Ministério dos Transportes, de imediata reativação dos radares. Tudo faz crer, considerados procedentes, que também neste caso ficará o dito pelo não dito, ficando a manifestação da Justiça restrita à mera repetição de rituais que não produzem efeitos. Tudo isso apesar do conhecimento do fato de que nos primeiros 8 meses do ano infrações como excesso de velocidade tiveram aumento de 43% e acidentes cresceram 10% nas rodovias federais brasileiras. Aquelas mesmas em que controles banais de tráfico e segurança acabam na conta das trivialidades, do supérfluo talvez.
Tudo isso enquanto as discussões acerca dos caminhos a percorrer para que o equilíbrio fiscal seja restabelecido empacam diante de interesses que se colocam acima do bem e do mal. Cortar despesas – por exemplo, vantagens incabíveis de funcionários públicos ou, principalmente, as mordomias dos ditos “marajás” – permanece no plano do inalcançável, do impossível. Eis porque sobram exatamente os radares, silenciosos e agora silenciados, mesmo que sua falta possa ser contada em vidas perdidas.
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