Editorial

Crédito do Trabalhador pode se transformar em arapuca com fraudes e endividamento além da conta

Aceitar somente que a nova linha possa ser mais barata e vantajosa acaba sendo raciocínio um tanto simplório
Crédito do Trabalhador pode se transformar em arapuca com fraudes e endividamento além da conta
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Fiado no relativo sucesso de experiências anteriores, em que o crédito turbinado muito colaborou para o incremento das vendas no varejo e, assim, para a expansão da economia, o governo federal está tentando repetir a dose. Eis o que Brasília parece esperar do Crédito do Trabalhador, já disponível para quem tem carteira de trabalho assinada. Trata-se de empréstimos consignados, à semelhança do que é oferecido a aposentados e pensionistas, no caso com descontos diretamente na folha e prestações fixas. Parece ser e pode ser uma vantagem para os tomadores, que dificilmente teriam acesso a linhas de crédito por outros meios.

Será de todo prudente, porém, atentar para os erros – e até desvios – verificados com o consignado destinado a aposentados. O aparente benefício, em muitos casos, foi transformado em arapuca, seja por conta pura e simplesmente de inúmeras fraudes, seja pelo endividamento além da conta. Caberia refletir também sobre o montante de encargos a serem cobrados, lembrando que no mercado o custo do crédito é alegadamente impactado sobretudo pelas garantias – o famoso spread – capazes de evitar que eventual calote não seja transformado em prejuízo. Exatamente o que não acontece no consignado, em que a garantia de pagamento e pontualidade é absoluta, o que entretanto não se reflete plenamente nas taxas afinal aplicadas, que são e continuam sendo bem mais altas que o razoável.

Ninguém explica, ninguém esclarece e tudo acaba ficando por isso mesmo, enquanto o prometido benefício é transformado em mais um excelente – e seguro – negócio para quem vende crédito e pode ganhar sem correr qualquer risco. Convenhamos, algo um tanto incomum, sobretudo se tido em conta o impulso inicial de amparar os mais necessitados, conforme agora repetido, ofertando-lhes crédito que pode ser transformado em acesso a melhores condições de vida, além de anabolizar produção e consumo. Aceitar apenas que esta nova linha possa ser mais barata e vantajosa acaba sendo raciocínio um tanto simplório.

E tudo implicando também em riscos de que endividados além do que possam efetivamente suportar, inclusive pela possibilidade de serem atingidos por fraudes, como acontece com os aposentados, perversamente beneficiários, acabem transformados em vítimas. Não estamos falando de hipóteses ou meramente apontando riscos, muito ao contrário. Estão sendo mostrados fatos que também precisam ser alvo de maiores atenções. Para só então, sim, de fato, fazermos mais e melhor.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas