‘Resort’ de traficante no Rio de Janeiro: o crime organizado e a sensação de impunidade

Em meados do mês passado a Polícia Militar do Rio de Janeiro pôs abaixo, com tratores e máquinas pesadas, o que chamou de resort construído por um traficante em Parada de Lucas, na localidade conhecida como Complexo de Israel. Difícil imaginar como alguém com 79 anotações criminais, um dos criminosos mais procurados do Estado, possa ter ousado tanto e impunemente. Seu resort, hoje transformado em escombros, chamaria atenção em qualquer lugar, especialmente numa comunidade em que lago com carpas, piscina, quadras, academia e outras facilidades não são nada comuns.
Mais recentemente vieram à tona novos elementos para melhor compreensão dos fatos. O complexo era bem conhecido, assim como seu proprietário e a demolição vinha sendo discutida, chegou a ser marcada, mas foi abortada, há pelo menos dois anos. Acontece, o que não é nada incomum, que houve vazamento dos planos, que mais de uma vez foram adiados por conta de interferências de deputados e vereadores. Alegou-se que o local era sítio de projetos sociais e de natureza comunitária, não o abrigo e local de lazer escancaradamente exposto e destinado a marginais.
Mais uma vez é preciso ressaltar que são absolutamente assustadoras as evidências de conluio entre o crime organizado e suas múltiplas ramificações e agentes públicos, sejam policiais, funcionários ocupantes de posições estratégicas ou parlamentares e políticos. Fossem outras as condições e certamente não haveria espaço para que um complexo de lazer em flagrante disparidade com seu entorno, absolutamente destoante, fosse erguido e mantido de pé por tanto tempo. Da mesma forma como não teria acontecido a sucessão de eventos delituosos e discrepantes, como até a construção de prédios em reservas ambientais próximas de comunidades. Associados, comprova-se, criminosos e agentes públicos tudo podem, tudo fazem, nutridos pela absoluta certeza da impunidade.
De volta ao resort do Complexo de Israel no Rio de Janeiro, caberia indagar se a demolição, já consumada, foi realmente necessária, encarnando a melhor solução. Permanece, para muitos, a impressão de que todas as benfeitorias poderiam ter sido preservadas, aí sim, para uso e ocupação de serviços de natureza social, de educação e lazer, voltados para a população do entorno, diante do desperdício bem representado pela sumária demolição. Foi no Rio de Janeiro, mas poderia ter sido em qualquer outra localidade no País. Cabe, sim, refletir a respeito.
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