Editorial

Crimes para não esquecer

Crimes para não esquecer
Crédito: Adriano Machado/Reuters

Os acontecimentos de 8 de janeiro passado, concebidos como estopim de um golpe de Estado como recurso extremo para conter a desordem que se esperava instalar a partir da invasão das sedes dos Três Poderes, não cairão no esquecimento. Pelas proporções dos excessos então perpetrados, pelo bisonho despreparo de seus articuladores e, fato também inédito, pela punição dos que se atreveram tanto, mesmo que alguns, desavisados, fossem não mais que massa de manobra. Eis o significado maior do anúncio da Procuradoria Geral da República (PGR) ao encaminhar, na última segunda-feira, denúncias e pedido de condenação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para os primeiros 40 réus detidos e processados, conforme manda a lei. Associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência ao patrimônio público, tombado inclusive, podem implicar em condenações de até 30 anos de prisão.

Pelo menos outros 1.300 investigados e processados aguardam na fila igual destino. Para a PGR, “a forma como agiram os invasores do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto demonstrou, de um lado, a estruturação do grupo criminoso e, de outro, a fragilidade da contenção imposta pela Polícia Militar do DF, notadamente em razão da ausência de efetivo policial necessário para impedir o avanço da turba”. Nada por conta do acaso, de algo que pudesse ser classificado como espécie de combustão espontânea, muito menos, como querem os verdadeiros donos da baderna, resultado da ação de “infiltrados” a serviço do governo empossado há apenas uma semana.

O importante, cabe ressaltar, é que ao contrário do ocorrido em outros momentos críticos da vida nacional, tudo faz crer que não haverá esquecimento ou indulgência e sim a reparação devida, agora para os pilhados em flagrante. Que sejam apenas os primeiros, mas que a mão de Justiça não seja mais leve em relação aos verdadeiros líderes da baderna, todos amplamente conhecidos e muitíssimo bem identificados no comando dos delitos anotados, conforme está fartamente documentado e provado. E, sobretudo, sem nenhum traço, por mais tênue que fosse, que lhes permita reclamar apenas o exercício de sua liberdade política. Absolutamente não foi assim e tem agora que arcar com as consequências de seus atos e sem nenhuma espécie de indulgência.

Para que os ataques de 8 de janeiro sejam, de fato, o marco de um recomeço, é fundamental agora que as punições, e sem nenhum desvio do que a lei determina, guardem proporção com a gravidade dos fatos que se deram à luz do dia e sob holofotes. Só assim não haverá espaço para retrocesso.

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