Editorial

Cúpula do G20 abre novas portas para reduzir o abismo da desigualdade

A criação de uma aliança global contra a pobreza e a fome, que partiu de uma proposta do Brasil, merece destaque
Cúpula do G20 abre novas portas para reduzir o abismo da desigualdade
Crédito: Ricardo Stuckert / PR

A reunião de cúpula do G20, grupo que reúne os 19 países mais ricos do planeta e mais a Comunidade Europeia, foi formalmente encerrada na última segunda-feira no Rio de Janeiro, com divulgação do texto final do documento que alinha o entendimento formalizado ao longo de mais de um ano de sucessivas reuniões. Numa rápida síntese, mais um rol de boas intenções e renovação de compromissos com a redução das desigualdades econômicas e sociais, contenção de conflitos armados, recuperação e preservação do meio ambiente e reconhecimento de que a governança mundial, redesenhada ao final da Segunda Guerra em 1945, caducou e já não reflete os interesses globais.

Pontos a rigor impositivos, porém abordados em obediência a um balé diplomático já bastante conhecido, se não enfadonhamente repetitivo, e destinado mais a produzir a impressão de movimento que propriamente resultados. De qualquer forma e para além das aparências, fica no ar a impressão de que as lideranças globais, vale dizer os países que ocupam os papéis principais, começam a perceber que as desigualdades econômicas, consequência de sistemas predatórios, alcançaram de fato proporções que já não atendem nem mesmo aos interesses dos grandes players, ajudando a materializar riscos de um desequilíbrio estrutural. Tudo isso com implicações políticas igualmente indesejáveis, permitindo assim que discussões como a taxação de super-ricos ganhe até alguma naturalidade. O abismo da desigualdade de renda e sua concentração, que vai sendo cavado mais e mais fundo, pode até ainda não atingir, como seria desejável, as consciências ou simplesmente o senso prático desses dirigentes porém claramente lhes infunde medo.

Eis porque a criação de uma aliança global contra a pobreza e a fome, surgida de proposta brasileira, foi incluída no documento final, com adesão explícita de mais de 80 países. Possivelmente o passo mais concreto e de importância mais imediata, com possibilidade de que possa ser posto em marcha, efetivamente, já em meados do próximo ano, conforme avaliações de participantes da reunião do Rio de Janeiro. Tentemos acreditar que, de fato, são novas portas que se abrem, renovando consequentemente esperanças de que os líderes planetários possam se dar conta de que colaboração e entendimento serão as armas mais eficazes para a redução das desigualdades que nutrem os conflitos que ameaçam o futuro e mancham a própria condição humana.

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