Déficit zero das contas públicas passa pelo corte de gastos

Enterrada a ilusão de que seria possível reequilibrar as contas públicas exclusivamente com aumento de receitas, feito que deveria bastar para zerar o déficit já no corrente exercício, trabalha-se agora, e finalmente, com a construção de caminhos que levem ao corte de gastos. Tarefa árdua, convém reconhecer desde logo, diante de hábitos e costumes prevalentes no serviço público em nosso País. Não por acaso adiada enquanto foi possível vender a ilusão do déficit zero alcançado à base de irrealístico aumento de receitas e ainda agora objeto de divergências na alta cúpula da administração federal, que parece saber o que é preciso fazer, mas desconhece o como fazer. Restaria lembrar a quem decide que tanto quanto reduzir gastos é preciso gastar melhor, desperdiçar o mínimo.
Muito possivelmente não terá sido por acaso, nas circunstâncias, que tenham circulado em Brasília nos últimos dias informações relativas a um possível desagrado do presidente Lula com relação a périplos de ministros de Estado pelo exterior. Feitas as contas com ajuda de auxiliares mais próximos no Palácio do Planalto, verificou-se que desde a posse, em janeiro do ano passado, ministros de Estado carimbaram seus passaportes, possivelmente aqueles vermelhos, pelo menos 207 vezes. Considerando que tais viagens não costumam ser solitárias, envolvendo também pagamento de diárias e muitas outras despesas, pode-se imaginar o tamanho da conta.
Um caso exemplar, bastante ilustrativo, mas que também está longe de ser único. Afinal, dinheiro que passa pelo governo parece não ter dono, muito menos quem se disponha a tomar conta dele com o zelo que nunca poderia faltar. Ou pelo menos, e continuando no caso que teria se transformado em fonte de preocupação para o presidente da República, indagar de cada viajante motivos e objetivos das escapadas. Regra que deveria valer para tudo e todos, mesmo para viagens que não requerem passaporte, mas podem ser facilitadas pelo uso de jatinhos que deveriam ser exceção, nunca a regra para as excelências de Brasília.
Isto e muito mais com absoluta certeza, para cortar despesas que não têm justificativa, para impor aos agentes públicos que ocupam posições mais altas menos vaidade e mais responsabilidade, senso de dever. Começar pelo caminho do exemplo e da disciplina certamente não bastará para produzir os efeitos desejados e tão necessários. Mas traduz, por certo, mudança de comportamento e de atitude numa saudável transformação que partindo do topo produziria efeitos igualmente positivos também nos escalões inferiores, tendo como resultado final aquela higienização que em outras condições não tem como ser alcançada.
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