Editorial

Degradação ao extremo

Degradação ao extremo
Crédito: Adriano Machado/Reuters

Os acontecimentos de 8 de janeiro, não cabem dúvidas a respeito, foi um teste para o sistema político brasileiro que soube resistir a uma tentativa de quartelada de baixíssima inspiração e, felizmente, pior execução. Uma data, afinal, incorporada à história do País, para que não seja esquecida e não se repita, para desaconselhar, espera-se que para sempre, aventuras do tipo. Um sinal positivo ainda que não um alívio, só possível se estivéssemos todos, afinal, diante de qualquer coisa mais civilizada. Longe, muito longe disso, a julgar por acontecimentos recentes mostrando que as regras, as boas regras de convivência e interação na politica foram apagadas.

Estamos falando na perspectiva de alguém que ainda imagina que as instituições públicas e o espaço político existem como ponto de encontro de pessoas bem equipadas intelectualmente, bem formadas e portadoras de valores éticos do mais alto padrão. Tudo isso e mais a determinação de servir, de bem representar o conjunto da população. Assim deveria ser, assim tudo deveria funcionar bem, possibilitando a construção de uma nação próspera e socialmente equilibrada. Entre o sonho possível e a realidade a distância continua sendo abissal, como mais uma vez nos mostra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que anuncia – e sem se corar – que a casa entra em regime de obstrução incomodado com indefinições com relação à nomeação de afilhados, em especial as cobiçadas presidências e 12 vice-presidências da Caixa Econômica Federal. O troca-troca ficou absolutamente explicado, o que vale é o princípio do é dando que se recebe, num ambiente em que reclamar o controle de um banco público “de porteiras fechadas” deve soar como algo perfeitamente natural.

Nessas condições, é evidente, o desastre está consumado e só não são piores as consequências porque a história e suas dificuldades deram aos brasileiros tremenda capacidade de adaptação, numa resistência silenciosa que pode parecer omissão, mas ajuda a evitar o pior. Eis a realidade no que temos de pior, consequência de um sistema político muito bem preparado para servir a seus líderes, nunca o contrário, assim fazendo da tal “governabilidade” um exercício de conveniências, de concessões sempre maiores e mais caras e que do ponto da gestão pública só fazem piorar as coisas.

É nesse sentido que o País prossegue num estado de indigência política, mesmo tendo conseguido deter os aventureiros do dia 8 de janeiro, muito menos os baderneiros e muitíssimo mais os que deles se serviram.

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