Editorial

O desperdício da água tratada no Brasil, um exemplo do que não fazer com o dinheiro público

Estimativas apontam que 40% da água tratada no País se perde por falhas na rede de distribuição, evidenciando o desperdício
O desperdício da água tratada no Brasil, um exemplo do que não fazer com o dinheiro público
Foto: Carlos Barria/Reuters

Estudiosos, quando não apenas pessoas de bom senso, têm dito e repetido que o reordenamento das contas públicas no País e a consequente supressão dos déficits acumulados não acontecerão sem que o desafio de cortar despesas seja afinal encarado. Cortar gastos, no elementar entendimento de que as saídas não podem ser maior que as entradas de recursos, assim como fazer prevalecer o entendimento de que é preciso e urgente também melhorar a qualidade dos dispêndios e suprimir desperdícios. Em resumo, dar fim a antigas práticas que se confundem com a própria essência do serviço público no País onde dinheiro não tem dono e despesas não têm controle.

Para ilustrar e, em benefício dos incrédulos, dar consistência à linha de argumentação podemos utilizar exemplo recente, com informações sobre o desperdício de água tratada no País. Assim ficamos sabendo que, na média, 40% da água tratada no País se perde, volume suficiente para atender, segundo contas que vêm do próprio governo, 54 milhões de pessoas num país em que estimativas contam que 30 milhões não têm acesso a água tratada. Estamos apontando, enxergando, desperdício em escala exponencial, está sendo demonstrado que mais da metade dos investimentos destinados à captação e tratamento de água se perde antes de chegar aos consumidores. Dinheiro jogado fora, água jogada fora.

O desperdício, segundo estudos há pouco divulgados, pode ser ainda maior, existindo casos em que as perdas chegam a inacreditáveis 70%. E tudo por conta de falhas nas redes de distribuição, cujos vazamentos no geral sequer podem ser adequadamente monitorados, além de desvios na ponta de consumo e outras irregularidades. Nada que não seja percebido e sabido, nada que seja enfrentado a partir de uma escala mínima de, justamente, seriedade no trato do interesse público. Uma conta que todos, mesmo os que não podem ser incluídos no rol de consumidores, perversamente acabam ajudando a pagar. E desperdício um tanto mais doloroso quando considerado exatamente que 30 milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada e potável.

Um exemplo recolhido neste comentário apenas por conter elementos de informação mais recentes, bastantes para demonstrar o que deve e o que não deve ser feito com recursos públicos. Ou, mesmo, com a própria água, se entendida como escassa, cara e essencial à própria vida, tudo isso para nos fazer perceber até que ponto nosso destino depende de mudanças na gestão pública ou do claro entendimento de que existem compromissos que não podem ser postos de lado.

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