O dever de casa
A escalada da violência no Rio de Janeiro e, simultaneamente, o claro entendimento de que as atividades das chamadas facções já não representam fenômeno próprio das comunidades cariocas, deveria ter bastado para provocar reações mais contundentes. Para o entendimento, afinal, da parte de políticos e gestores públicos, de que o assunto deve ser elevado à condição de emergência nacional. E sem espaços, portanto, para oportunismos e conveniências, como se tudo pudesse ser resumido em mais uma ocasião para recolher dividendos políticos.
Ser contra ou a favor deixou de ser, e faz tempo, questão de conveniência ou oportunismo, quando não de deslavada cumplicidade. Reagir passou a ser algo como a escolha de um lado ou, elementarmente, do entendimento de que tudo pode ser não mais que manifestação de sentido de sobrevivência, todos assim apontando para a mesma direção e com objetivos absolutamente retos. E tudo tão claro quanto o entendimento de que o descontrole, nas proposições em que se encontra escapa à razão, restando assim a conclusão de que podemos todos estar à beira de um abismo, cujo fundo sequer pode ser avistado.
Simplesmente não existem argumentos capazes de indicar o contrário e da mesma forma que deve ser lembrado que estratégias funcionais devem sim começar pelo elementar. Caso bem claro, e já mencionado neste espaço, do redesenho do sistema carcerário e no pleno entendimento de que a ressocialização não pode ficar de lado. Também, e na linha de quem se encontra no ponto de partida, a compreensão objetiva de que sem a erradicação da corrupção no ambiente policial pouquíssimos avanços acontecerão.
Definitivamente não é pouca coisa, não são tarefas que possam ser cumpridas da noite para o dia ou a partir de espasmos voluntariosos. Mas como é preciso começar, fica registrada sugestão para o mais elementar, partindo de pergunta também elementar. Como e porque, afinal, o Estado brasileiro, que deveria se vergar à humilhação, não foi sequer capaz de apartar o sistema prisional, cortando o acesso livre à telefonia celular, hoje sabida e comprovadamente ferramenta essencial para o comando das atividades das facções e consequentemente de seu evidente sucesso?
Encontrar respostas que são também bastante óbvias pode ser mais que meio caminho andado para que afinal possamos começar a nos afastar do abismo.
Ouça a rádio de Minas