Dívida pública, juros e inflação: o Brasil está andando em círculos

A dívida pública bruta brasileira somava, no final de dezembro passado, valor equivalente a 76,1% do Produto Interno Bruto (PIB) contra 86,94% em 2020, em plena pandemia, e 63,4% há 11 anos, em 2014. Um incremento que preocupa e, segundo o Banco Central, é explicado sobretudo por conta do aumento de volume e, portanto, riscos para os titulares de papéis brasileiros. Riscos também para a própria inflação, cuja taxa mensal alcançou em fevereiro o mais alto nível em 20 anos, numa situação que pode guardar semelhanças com um beco sem saída. Cálculos do Banco Central mostram que cada ponto percentual de variação na taxa Selic tem reflexo de 0,41 ponto na dívida pública, o que representa R$ 48,6 bilhões, considerados valores de janeiro passado.
Dizem economistas ortodoxos que, para além da manutenção das taxas de juros em patamares elevados, e apesar dos pesares, não existiria outra saída que não forte redução de gastos. E a consequente criação de condições objetivas para o reequilíbrio fiscal com redução das pressões que acabam alcançando os preços e a inflação. Nessa equação encontram explicação e justificativa também para a elevação dos juros, com a taxa básica já nos 14,45%. Nesse patamar, não custa nada recordar, o Brasil prossegue sujeito aos juros mais caros em todo o planeta.
A teoria, o que está dito em alguns dos compêndios de economia, pode até ajudar na construção de explicações formais, mesmo que aos céticos caiba perguntar como e porque se o caminho está certo como, depois de décadas a percorrê-lo constata-se que o que era ruim prossegue piorando, sem sinais à vista de que o quadro possa melhorar. E como se estivéssemos todos dando voltas em torno de um ponto ou andando em círculos. Culpa do próprio paciente, dos médicos ou do remédio que aplicado em doses excessivas pode ter se transformado em veneno?
Também é devido e necessário indagar quanto terá custado ao Brasil, ao longo do tempo a política monetária que transformou os juros numa espécie de obsessão. O reconhecimento pelo Banco Central de que cada ponto percentual de elevação da taxa de juros engorda a dívida pública em R$ 48,6 bilhões a cada ano é uma pista verdadeiramente assustadora. Deveria ser o bastante também para o entendimento de que mudar de direção, como reclama a maioria dos empresários brasileiros, deixou de ser vontade ou escolha para, claramente, ser apresentada como impositiva. O que, afinal, estaríamos aguardando?
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