Editorial

‘Divórcio’ entre Trump e Musk reflete valores apagados

É inegável que ruído gerado entre os então parceiros abala profundamente a política norte-americana e suas instituições mais sagradas
‘Divórcio’ entre Trump e Musk reflete valores apagados
Foto: Nathan Howard / File Photo / Reuters

Embora nas condições que se apresentam, seja um tanto restrito o espaço reservado às surpresas, cabe registrar que veio antes do esperado o divórcio entre Donald Trump e Elon Musk. Quem se lembra do controvertido empresário comemorando a posse do presidente com saltos, gritos e até mesmo saudação em estilo nazista não poderia imaginar que hoje, passados menos de seis meses, os dois trocaram acusações e lavaram roupa suja no seu melhor estilo, nas redes sociais.

Cabe recordar que Musk chegou ao governo em Washington como o nome mais prestigiado – e importante – entre os auxiliares diretos do novo presidente. E com a missão explícita de passar por cima de tudo e de todos para cortar despesas, do funcionalismo às agências de ajuda externa, acabando com tudo aquilo que na concepção atual tornou-se supérfluo. Ganhou carta branca num primeiro momento, mas também produziu atritos que se tornaram aparentemente incontornáveis, além dos múltiplos desafios às posturas legais. Há que se imaginar que o fogo interno tenha produzido os resultados agora conhecidos e notar que mesmo empresários que apoiaram e deram suporte a Trump igualmente deram-se conta de que embarcaram na canoa errada. Exatamente como os chefões da poderosa Coca-Cola, que aceitaram calados a sobretaxa de 25% sobre o alumínio, matéria-prima da principal embalagem do refrigerante, mas foram levados ao desespero diante da notícia de que as importações serão oneradas em 50%.

Tudo isso no exato momento em que o empresário Musk foi despedido ou se despediu por conta própria. Pode não ter sido apenas coincidência. É o que sugere a pesada troca de acusações entre os dois, o presidente desclassificando seu auxiliar, quase seu garoto-propaganda, que respondeu que sem ele Trump simplesmente não teria sido eleito. Não há como deixar de perceber que tudo isso abala profundamente a política norte-americana e suas instituições mais sagradas, até agora apresentadas como o melhor exemplo para o planeta. Valores apagados quando o presidente afirma que os contratos do governo com Musk, que somam bilhões de dólares, poderão ser anulados. Será assim, afinal, que as coisas se resolvem, tudo fazendo lembrar as “repúblicas de bananas” tratadas com desprezo e agora tão mal imitadas?

Certamente não será fácil, adiante, apagar estas manchas e fazer que sejam esquecidas as nódoas produzidas com velocidade e intensidade que espantam. Tanto quanto retomar a normalidade, recuperar valores que em tão pouco tempo parecem ter perdido significado e importância.

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