Editorial

Donald Trump se considera a própria lei e, sem perceber, está ameaçando seu próprio país

Cabe ao próprio Estados Unidos o olhar para que os abusos possam ser contidos de imediato
Donald Trump se considera a própria lei e, sem perceber, está ameaçando seu próprio país
Foto: Carlos Barria / Reuters

O presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, depois de afirmar a uma governadora de oposição que se considera a própria lei, prossegue meio destemperado e sem limites, ameaçando a tudo e a todos. E sem perceber que, na prática, está ameaçando em primeiro lugar seu próprio país e para o qual, contraditoriamente, diz enxergar uma “era de ouro”. Seria, dizem alguns observadores, uma estratégia de altíssimo risco, destinada sobretudo a confundir, a não deixar que seus opositores percebam quais são de fato os alvos eleitos como prioritários. Pode ser, mas tudo isso assusta e antecipa um final que tem tudo para não ser feliz.

O país que se apresentou ao mundo, com mais ênfase durante os últimos 70 ou 80 anos como a terra da liberdade e da democracia, que se enxergou líder global e valendo-se de uma formidável máquina de propaganda tentou transformar em verdade essas ideias, revela sua outra face. Agora para dizer, ou repetir como fez há pouco no Congresso, que pode sim anexar a Groenlândia – “de uma forma ou de outra”- para satisfazer seus próprios interesses ou alerta os palestinos sobre o fato elementar de que a alternativa que lhes resta é exclusivamente a morte.

Os paralelos com os momentos mais sombrios da humanidade, aqueles protagonizados pela Alemanha, que também se dizia injustiçada e atacada, são a cada dia que passa de mais fácil percepção. Nos anos 30, a elite alemã, situada entre as mais bem instruídas do planeta, se mostrou indiferente diante dos acenos ensandecidos de Adolf Hitler. Alguém que também foi visto como um louco divertido e que adiante seria contido, no momento certo, pelo sistema político de seu país. Não aconteceu e os resultados são aqueles que todos conhecem e que só não foram piores porque a energia nuclear ainda não estava dominada.

Cabe abrir os olhos, cabe enxergar e tal esforço deve partir por óbvio do próprio Estados Unidos para que os abusos possam ser contidos de imediato, para que a aventura não alcance velocidade e proporções incontroláveis. As primeiras reações, no âmbito do sistema judicial e já no plano da Suprema Corte, sugerem que a percepção da realidade e, portanto, também dos riscos, possa ter começado a acontecer, por certo trazendo algum alívio em meio a tanta turbulência. Externamente caberá perceber que não estamos diante de mais um capítulo da Guerra Fria, um daqueles momentos de tensão extrema e para o qual a Europa enxerga apenas mais um ciclo de rearmamento. Cabe sim esperar que os riscos de agora ensinem que as hegemonias são nefastas e devem, todas elas, ser desmontadas para dar lugar a verdadeira pluralidade. Ou simplesmente, ao fim, e para sempre, da lei do mais forte.

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