Editorial

Dos males o menor

Polêmica em torno das bets ganhou mais um capítulo com a intenção da Caixa de ingressar neste mercado
Dos males o menor
Foto: Rafael Henrique / Adobe Stock

Mais uma polêmica surgiu em torno das tais “bets”, as plataformas eletrônicas de jogos que, como ainda há pouco comentado neste espaço, rapidamente se transformaram numa espécie de sorvedouro de dinheiro. Pior, dinheiro, principalmente, dos mais velhos e mais pobres, aposentados que ainda acreditam no sonho de mudar de vida, mesmo quando tudo não passa de ilusão. Dinheiro que falta até para alimentação, dinheiro drenado até mesmo de programas sociais. Tudo isso para causar espanto, mas ainda pouco para chamar à razão autoridades que têm o poder – e antes a responsabilidade – de fazer que tudo volte ao curso da mínima normalidade.

A polêmica mencionada no parágrafo anterior diz respeito à pretensão da Caixa Econômica Federal, que já patrocina diversas modalidades de apostas e loterias, de entrar no ramo da jogatina eletrônica, criando a sua própria “bet”. Segundo comentários que chegam de Brasília, o projeto já estava adiantado, muito perto de ganhar formas definitivas, mas teria sido vetado pelo presidente Lula, que preferiria ver o banco público mais comprometido com programas sociais. Teria havido também influência, por vias tortas evidentemente, de políticos que clamavam à razão, porém na realidade apenas tentavam promover algo como uma reserva de mercado para as controvertidas empresas que já estão no negócio.

E sobre a Caixa Econômica vazou também a informação de que sua administração estaria preocupada em recuperar receitas perdidas com as loterias e jogos que promove. A arrecadação caiu nada menos que 50% em dois anos, perdendo exatamente para os novos concorrentes. No primeiro semestre do ano corrente as loterias arrecadaram R$ 11,6 bilhões, enquanto no mesmo período chegaram aos cofres das “Bets” pelo menos R$ 17,4 bilhões. Como se fosse necessário alinhavar mais argumentos para reforçar a ideia de que nem tudo prossegue nos trilhos do aceitável, caberia acrescentar que 48% das receitas da Caixa Econômica com loterias são destinados a programas sociais patrocinados pelo governo federal.

São informações que deveriam soar como algo equivalente a um forte apelo à razão e ao bom senso, o que, entretanto, ainda está por acontecer, quem sabe para pelo menos fazer entender que se os brasileiros podem continuar convivendo, e sem danos relevantes, com a jogatina eletrônica, por certo poderiam conviver também com os cassinos que foram fechados há mais de meio século.

Afinal, estamos todos, pura e simplesmente, diante de mais um daqueles casos em que dos males estamos falando dos menores. Ou não?

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