Editorial

EDITORIAL | Momento de reflexão

EDITORIAL | Momento de reflexão
Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Apesar dos pesares, comemora-se amanhã, ainda que sem a ênfase e o brilho que seria de se esperar, os 200 anos da Independência do Brasil. Um momento também de reflexão sobre o que fomos, o que somos e o que poderíamos ser como nação. Momento talvez, para muitos, de penitência pelos erros cometidos, que a rigor começaram também há 200 anos, ajudando a condicionar, negativamente, os dois séculos que vieram depois. Já naquelas alturas, tudo não passou de um arranjo de conveniência dos Braganca e seu empenho em manter a coroa portuguesa e, ao mesmo tempo, a colônia ainda lucrativa, com um grande acerto em que houve espaço até para o despropositado pagamento a Portugal de gorda indenização. Nada, porém, que nos permita esquecer o heroísmo de patriotas brasileiros que, especialmente na Bahia e Pernambuco, tentaram dar rumo diferente à história que começava a ser escrita e talvez por isso mesmo se tornaram figuras apagadas, quase esquecidas.

Em todo caso fica a imagem de belíssima exposição realizada em Lisboa, sobre o ouro brasileiro, como parte das comemorações dos 200 anos da Independência. Diante da maravilha e quantidade das riquezas exibidas, parte ínfima dos que nos foi surrupiado, visitante brasileiro teria perguntado a um lusitano se não seria a hora de nos devolver pelo menos parte do grande butim. Claro que ninguém está pensando em fazer isso, mas, convenhamos, a pergunta procede.

Do lado de cá do Atlântico as perguntas são outras. Como dito acima, nossa história de nação independente começou com um grande arranjo no qual claramente fomos a parte fraca, passiva diante de interesses que não eram os nossos. Em alguma medida assim prosseguiu, éramos colônia e nessa condição prosseguimos, adiante sob outros senhores, sempre com o mau hábito de favorecer interesses que não são os nossos. E perdendo as oportunidades de construir uma grande nação, melhor aproveitando todas as condições que favorecem tal empreitada. Repetindo, permanecemos condicionados à verdade da Corte, que continuou soberana, enquanto não são poucos os que entendem ser este o bom caminho.

Sempre haverá tempo para fazer diferente, de todos, brasileiros, tomarem consciência de quão perversamente a história foi manipulada para nos condicionar e nos submeter, favorecendo interesses alheios, por ação e omissão, deixando de lado a tarefa de, verdadeiramente, construir a nação brasileira, o que não teria nada de inadequado, sendo suficiente lembrar que poderíamos ter, simplesmente, copiado o modelo dos Estados Unidos. Enxergar a realidade já será uma maneira de dar sentido à data.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas