EDITORIAL | Sem espaço para errar

As costuras para a formação do primeiro escalão do novo governo entram, até pela força da necessidade, na sua reta final e com as atenções voltadas para o lugar reservado à senadora Simone Tebet, confirmada ontem para assumir o Ministério do Planejamento. Uma questão pertinente. Candidata à Presidência e, no segundo turno, importante aliada da coligação vitoriosa, não será afirmar que Tebet foi a melhor surpresa na política brasileira este ano, revelação que parece ainda não ter escrito as páginas mais importantes de sua biografia. Tomando posição a senadora se agigantou, existindo estudos que indicam que sua atuação teria sido o fator que garantiu a vitória, em margem bastante estreita, do presidente Lula.
E na segunda-feira, quando retornou a Brasília depois de passar o Natal em São Paulo, o futuro presidente disse que terá bastante trabalho nos próximos dias para escolher os 16 integrantes que faltavam para compor o gabinete de 37 ministros. Se não cabe mais discutir o despropósito desse número ou colocar em questão a afirmativa de que tudo será feito sem aumento de gastos, vale ressaltar, mesmo que repetitivamente, as impertinências do processo de escolha. Como afinal imaginar que uma determinada pessoa, e são várias as que estão ou estiveram nessa condição, possa, em tese, ocupar pastas tão variadas, supostos guarda-chuvas para temas não raro opostos? Ou seriam superqualificados, polivalentes, os seus respectivos currículos não significam absolutamente nada.
Restaria assim a conclusão de que o desenho que está recebendo seus retoques finais em Brasília é meramente político e de conveniência, sendo feito apenas para acomodar interesses. Triste conclusão. E tanto pior quando é sabido que os ocupantes mais graduados da Esplanada dos Ministérios terão pela frente, quando começarem a trabalhar na próxima segunda-feira, desafios que muito provavelmente nenhum de seus antecessores enfrentou. Tarefa, portanto, para os melhores entre os melhores, para especialistas reconhecidamente identificados com os temas de seu campo de atuação, num processo em que a competência deveria ser o principal critério de escolha. E tanto pior quando, claramente, nem mesmo os objetivos a alcançar parecem definidos.
Arranjos políticos, que eventualmente podem ser até bem-intencionados, definitivamente não respondem ao que é necessário, fundamental. Assim como falta esclarecer, para muito além dos limites das generalidades, qual será afinal a tarefa desse grupo, para que exatamente está sendo formado. Com uma vitória apertada e, tudo indica, tendo que lidar com uma oposição raivosa, que o presidente Lula não se engane, não perca de vista, como ele mesmo disse, que no seu governo não pode haver espaço para erros.
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