Editorial

Eliminação de barragens ainda não é realidade e perigo ronda as comunidades

Acordo bilionário firmado recentemente não apaga toda a dimensão da tragédia ocorrida e acende o alerta para barragens em risco no País
Eliminação de barragens ainda não é realidade e perigo ronda as comunidades
Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

Passados quase nove anos da tragédia causada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, finalmente foi assinado na última sexta-feira (24) o acordo definitivo para reparação integral dos danos causados pela catástrofe ambiental, que matou 19 pessoas, destruiu comunidades inteiras e devastou praticamente toda a bacia do rio Doce, com os rejeitos de mineração da Samarco, controlada pela Vale e BHP, desembocando no mar do Espírito Santo e chegando até o arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia.

O valor total acertado entre Samarco, Vale, BHP, estados, União e demais envolvidos nas negociações da repactuação ficou em torno de R$ 170 bilhões. Do montante, R$ 132 bilhões são de novos recursos a serem pagos pelas mineradoras e os outros R$ 38 bilhões se referem a cifras já investidas pelas empresas em medidas de remediação e compensação.

Na verdade, não há dinheiro que pague toda a dimensão da tragédia, que contaminou de forma praticamente irreversível diversos rios que serviam para pesca, agricultura. abastecimento de população e criação de animais. A compensação acertada serve apenas de um pequeno consolo diante da impossibilidade de consertar os imensuráveis estragos causados, com terras arrasadas e recursos hídricos imprestáveis.

O pior é que a história se repetiu em janeiro de 2019, com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que sepultou 270 pessoas e despejou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do rio Paraopeba. Apesar do número muito maior de mortes, os danos ambientais, embora graves, foram muito inferiores aos provocados pela tragédia de Mariana. Após os dois desastres em Minas Gerais, houve uma intensa mobilização social e as mineradoras se comprometeram a eliminar barragens a montante, como as de Mariana e Brumadinho, que apresentam maior risco de rompimento. Por outro lado, os responsáveis continuam impunes até hoje.

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Apesar do plano de extinção dessas estruturas, está em curso, com a substituição pelo método a seco, das 118 barragens de mineração em situação de alerta ou emergência no País, 32 estão em Minas Gerais, classificadas nos níveis 1, 2 e 3 de emergência, de acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM). Duas delas estão no nível máximo – em que há risco de rompimento iminente.

Além das estruturas com emergência declarada, há outras 18 no Estado em nível de alerta, patamar anterior aos três níveis mais críticos. Mesmo com uma maior conscientização em relação à necessidade de tornar a mineração mais segura, após as tragédias de Mariana e Brumadinho, o perigo ainda ronda as comunidades que vivem no entorno das barragens em Minas. Será preciso ocorrer um terceiro desastre para que a eliminação definitiva dos riscos vire realidade?

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