Editorial

O elo fraco da corrente

Informações sobre processos jurídicos são vendidas abertamente e sem mínimos controles no Brasil
O elo fraco da corrente
Foto: Adobe Stock

Você recebe mensagem eletrônica do escritório de advocacia que o atende e com a identificação usual, inclusive foto do profissional responsável. E prometendo a revelação de “uma boa notícia” na forma de acordo para resolver antiga pendência, tão velha que parecia esquecida. Para terminar, o aviso de que representante do Judiciário entrará em contato para que seja encaminhado o pagamento da indenização correspondente. Na sequência, ligação telefônica em que é solicitado número e conta para que seja feito o depósito, porém antecipado com alguns cuidados para confirmação dos procedimentos. A armadilha está armada e, com variações como solicitação de algum pagamento antecipado, o golpe está prestes a ser completado.

A estratégia impressiona. Nome correto e com identificação visual de advogados, íntegra do processo – verdadeiro! – em questão e, por fim, a oferta que parece mesmo uma boa notícia. Eis a nova forma de golpes – do falso advogado -, que aproveitam facilidades disponibilizadas por tecnologias modernas. Os detalhes são muitíssimo bem cuidados e impressionam, tanto que, segundo estimativas, os prejuízos causados, quase sempre de improvável recuperação, somam, e em apenas um ano, algo em torno de R$ 2 bilhões. Definitivamente não é pouca coisa, algo que possa ficar por conta de meras casualidades.

O que mais impressiona é a facilidade de acesso a processos em andamento no Judiciário, hoje na quase totalidade informatizados, e disponíveis a qualquer interessado. É fácil também o acesso aos tribunais superiores, inclusive ao Supremo (STF), onde podem ser recolhidas informações sobre autores, advogados, causas e todos os detalhes que deveriam ser guardados com algum sigilo e muita atenção. Nesses casos agora relatados e mais amplamente nos golpes que têm como ferramentas a informática, espanta justamente a facilidade de acesso a informações críticas. Algumas, inclusive, são vendidas abertamente e sem mínimos controles. Este parece ser precisamente o elo fraco da corrente.

São fatos bem conhecidos, objeto de preocupação e insegurança para usuários, sendo um tanto questionável a aparente omissão dos setores responsáveis. As proporções do problema, o volume dos prejuízos causados e, principalmente, o risco de que toda a tecnologia moderna acabe contaminada e desacreditada, demanda respostas mais rápidas e mais contundentes. Afinal, o principal predicado das facilidades disponíveis, muito mais que velocidade ou capacidade de processamento, deveria ser precisamente a confiabilidade. Sem ela os riscos seriam paralisantes e, sem exagero algum, por certo devastadores para a vida tal como a conhecemos hoje.

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