Em nome da razão
As atenções de boa parte do planeta estarão voltadas, nesta semana, para Belém do Pará, palco da chamada Conferência do Clima – ou COP 30 – aberta na segunda-feira (10) reunindo representações de 162 países. Agentes públicos, líderes globais e estudiosos estão reunidos para avaliar resultados dos programas ambientais em andamento e, essencialmente, redefinir metas para reversão do aquecimento global. Apesar da importância dos temas em discussão, não são animadoras as previsões quanto aos resultados do encontro, sendo bastante lembrar que o atual governo dos Estados Unidos, país que presentemente disputa com a China a liderança da economia global, sendo assim peça essencial de qualquer esforço consistente voltado para a valorização de políticas ambientais, entende que tudo não passa de um grande “engodo”.
O assunto, que ganhou ênfase notadamente a partir dos anos 70 do século passado, perdeu sua relevância científica e ganhou conotações políticas e econômicas que acabam confundindo além de dificultar a visão objetiva dos fatos. Estar de um ou de outro lado, entender que a humanidade se encontra diante de uma progressão indesejada ou, ao contrário, acreditar que tudo não passa mesmo de “engodo”, pode ser simplesmente o caminho menos desejado. Não para quem enxerga o peso das mudanças climáticas, que já são evidentes e assim não tem como negar a escalada que aponta para um rumo indesejado, do mais alto risco.
Se as discussões que começaram na segunda-feira em Belém e vão até o próximo dia 21 conseguirem ao menos devolver racionalidade aos debates já será um grande e alentador progresso. Para abrir espaços para considerações técnicas independentes e bem fundamentadas, bem mais, portanto, que mera explicitação de paixões ou conveniências particulares, capazes de orientar decisões que devem vir do plano político. E com claro entendimento também de responsabilidades, especialmente da parte dos países ricos, altamente industrializados, nada inclinados a verdadeiramente abrirem mão, ainda que em parte, de suas comodidades e conveniências para aceitarem o ônus de sua própria imprevidência.
Eis o que deveria ser feito, mesmo que longe das possibilidades mais realísticas, durante esses dias de reuniões de lideranças mundiais em Belém. Sem alarmismo, sem paixões exacerbadas, mas com mais clara percepção da realidade e antecipação do que pode estar pela frente. Simplesmente, o que também pode remeter ao terreno da utopia, a prevalência, afinal, da razão, para que assim causas e consequências e, sobretudo, responsabilidades, possam ser adequadamente medidas e pesadas. Já terá sido enorme avanço.
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