Editorial

Escândalo do INSS é uma novela com enredo repetido para os brasileiros

É tarde para providenciar cadeados, não pelo menos sem que haja sincera preocupação na apuração do que aconteceu
Escândalo do INSS é uma novela com enredo repetido para os brasileiros
Foto Rafa Neddermeyer / Ag Brasil

A bola da vez é o dito escândalo do INSS, assim batizada a rapinagem das aposentadorias e pensões, e o enredo já bem conhecido vai sendo repetido com a monotonia de sempre, não faltando sequer movimentação para abertura de mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ou contas sobre como os acontecimentos repercutirão na eleição do próximo ano. No plano que deveria estar mais próximo da objetividade – o das investigações – também falta espaço para a imaginação e o enredo igualmente peca pela monotonia, uns querem tirar o corpo fora, outros mergulham de cabeça nas acusações, fingindo indignação e espanto. Só não aparece alguém disposto a, de fato, para valer e se possível definitivamente, explicar como e para que existem associações supostamente destinadas a representar aposentados e pensionistas.

Seriam dezenas delas, nutridas por filiações fantasma, materializadas aos milhares em questão de horas, mas sem que ninguém tivesse sido capaz de perceber que coisas muito estranhas estavam acontecendo. Na verdade, nem tanto, porque sinais de alerta chegaram a ser acionados, porém sem merecer qualquer atenção para além dos mais rudimentares procedimentos burocráticos. Objetivamente, nenhuma preocupação com os ataques aos cofres do sistema previdenciário, muitíssimo menos com suas consequências para a clientela, os tais “velhinhos” agora demagogicamente pranteados.

Com as portas arrombadas é tarde para providenciar cadeados, não pelo menos sem que haja sincera preocupação na apuração do que aconteceu, ritual elementar de aprendizado para que os maus feitos não se repitam. Não pelo menos com tanta facilidade e nas proporções verificadas.

Cadeia para quem roubou, providência simples e até elementar mesmo que não raro bem distante da realidade. Mas tão elementar como a pergunta que ainda não foi respondida. Para que e por que afinal existiriam as tais associações – absurdamente também sindicatos de alegada representação de aposentados e pensionistas. Não pode ser, ou não deveria ser, mera repetição dos cacoetes que o getulismo deixou como herança. E sem que a primeira pergunta tenha sido respondida menos ainda será possível apurar e exibir a lista de serviços prestada pelas tais associações. Sabe-se o que elas tomaram, com explícita conivência ou participação de autoridades, dos aposentados, mas absolutamente nada sobre o que elas teriam oferecido aos velhinhos.

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E assim prosseguiremos no mundo das ilusões, uns fingindo indignação, outros fingindo que tomam providências. Tudo obedecendo ao velho e cansativo enredo que não muda e nos condena.

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