Espaços a reocupar
A coleção de absurdos e desvios que vai aos poucos ocupando todos os espaços da vida política no País ganhou proporções que há muito ultrapassaram os limites do aceitável. Caso específico da mais recente decisão de deputados estaduais do Rio de Janeiro, que, reunidos às pressas e em inédita comunhão, decidiram mandar abrir as portas da cela em que estava acomodado o presidente da casa, Rodrigo Bacellar, acusado pela Polícia Federal de algo como, digamos, excessiva intimidade com o crime organizado. Especificamente, de ter alertado um outro parlamentar, também detido, sobre sua condição de alvo principal em operação da Polícia Federal, o bastante para que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinasse sua prisão.
Para os padrões da política no Rio de Janeiro, nada, absolutamente nada, que possa trazer alguma surpresa ou que deixe de ser percebido como mera repetição de uma triste rotina, resultante de processo de degradação continuada e que até o presente não conheceu limites ou enfrentou barreiras eficazes. Nada também que se distancie de padrões que são, afinal, generalizados e de maior abrangência, evidências, mais que de abusos, de entorpecimento que reclama definitiva condenação. E precisa compreensão de que estamos diante de acontecimentos que são na devida conta, do abandono da ideia de uma ampla reforma política que deveria ter sido primeiro e mais importante desdobramento do processo de redemocratização.
Leviandade combinada com imediatismo e doses desmedidas de ambição produziram inércia e acomodação, abrindo assim os espaços que foram ocupados pelos piores interesses, aqueles mesmos que agora alcançam, e sem disfarces, até mesmo o crime organizado. E tudo de forma escandalosamente explícita como acontece no Rio de Janeiro. Cabe enxergar as proporções da deterioração em curso, a extensão das ameaças e a escalada que não comporta indiferença ou omissão. Para reagir com a intensidade impositiva é preciso apenas enxergar, entendendo que estamos todos igualmente sob risco.
Ouça a rádio de Minas