Editorial

Esquecer é impossível

Feridas produzidas pela Lava Jato que permanecem abertas, ainda doem e devem lembradas
Esquecer é impossível
Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ano de 2014 pareceu ser, para muitos brasileiros, o ano da redenção, de renovadas esperanças de que o cancro da corrupção, que tomara conta da vida política nacional, estava finalmente caminhando para o fim. E tudo por conta e como consequência da Operação Lava Jato, que, pelas mãos de um juiz destemido, rapidamente transformado em herói nacional e centro de todas as atenções ao prometer levar adiante o que deveria ser a cruzada do bem. Esperanças, ou ilusões, que não duraram muito, incapazes de resistir às muitas evidências de que o tal “devido processo legal” estava sendo deixado de lado e que a cruzada pelo bem e pela transparência na realidade tomava rumo bem diferente. Tudo não passava de um grande jogo de interesses em que ambições políticas e ganância se confundiam.

Hoje, corrigida a rota e melhor compreendidos os acontecimentos, o juiz Sergio Moro, levado ao que deveria ser o panteão dos heróis nacionais por conta do açodamento, inclusive da chamada grande imprensa, volta a ser figura central. Sobre o hoje senador pairam dúvidas que ainda estão por ser sanadas, com evidências que o colocam muito próximo de uma condenação. Apurações estão em marcha e cabe esperar que elas tragam a verdade, cabal apuração dos acontecimentos e com instrumentos para instruir processos legais.

Só não pode haver esquecimento, nem mesmo a relativização dos fatos e da culpabilidade de quem esteve à frente dessa enorme farsa. Para lembrar também que não se pode focar apenas nas implicações políticas dos acontecimentos, por mais que eles tenham sido prejudiciais para o País. Cabe também lembrar os danos laterais, os prejuízos materiais que vão muito além daqueles resultantes da escancarada rapinagem que ainda não teve fim. Qual teria sido afinal o prejuízo econômico, para o País, dos desmandos patrocinados ou acobertados pela Operação Lava Jato?

Como afinal deixar de perceber, e considerar, que as grandes empreiteiras nacionais, que a própria engenharia brasileira, que já conquistara posições relevantes também no exterior, foi pura e simplesmente dizimada? Ou como esquecer as demais atividades igualmente afetadas, ao custo elementar da extinção de milhares e milhares de postos de trabalho? Como medir, como aferir devidamente as perdas com a paralisia da economia nacional, com o consequente retrocesso que ainda não foi de todo superado?

São feridas que permanecem abertas, que ainda doem e não devem ser esquecidas, apagadas como se nada tivesse acontecido. É preciso, também neste caso, chegar à verdade e apontar os culpados. Para que a impunidade não seja mais um prêmio para quem fez tanto mal ao País.

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