Está ruim e deve piorar

Como regra, o espaço político brasileiro tem sido palco de espetáculos que deixam a desejar, isso numa avaliação um tanto generosa. A rigor, e pelo que temos visto, o rumo foi perdido faz tempo, algo percebido e reconhecido, tanto que durante muito tempo fez da reforma política, hoje esquecida, o centro das atenções. Uma nova Constituição que, para resumir, tentou acomodar todos os interesses, em parte ajuda a explicar os acontecimentos posteriores, além da ilusão de que o passado poderia ser varrido para debaixo do tapete em nome de uma conciliação que nunca aconteceu. Hoje, não temos dúvidas, a face pior desse legado é aquilo que deveria ser chamado de pluripartidarismo de conveniência, em que projetos, ideologias e propostas são substituídos pela rasteira conveniência, algo muitíssimo bem representado, presentemente, na multiplicação de ministérios, que nunca parecem chegar, e no arremedo de reforma ministerial em andamento.
Nesse ambiente a administração pública emperra, a gestão é bastante dificultada e os resultados sempre ficarão aquém do desejável, tudo em nome de uma governabilidade a cada dia que passa mais cara e mais duvidosa. E bem pode ser que ainda não estejamos diante do pior. Eis o que nos sugere notícias de que está em marcha, em Brasília, pacote de mudanças em que, surpreendentemente, situação e oposição se unem em torno de um mesmo propósito. Depois de tudo que já aconteceu, e sem consequências, em nada surpreende que as proporções do deboche cheguem a este ponto.
Para começar, e conforme já anunciado, está em andamento, e praticamente consumada, uma grande anistia para partidos políticos e seus integrantes, passando a borracha em todos os delitos praticados durante campanhas eleitorais e perdoando multas e penalidades correspondentes. E não parece suficiente para satisfazer o largo apetite de quem parece não ter limites. Agora pretendem também, e a toque de caixa, estender o perdão também às fraudes nas cotas de mulheres e negros, até mesmo em candidaturas definidas como “laranjas”. Tudo à luz do dia, tudo às claras e como se fosse perfeitamente normal.
Nessas condições e enquanto a verdadeira reforma política, aquela reclamada pelo bom senso, é posta de lado, esquecida como algo imprestável, resta imaginar, ou concluir, que o que já está bastante ruim só pode piorar.
Ouça a rádio de Minas