Editorial

O exemplo do Equador

O exemplo do Equador
Equador está em estado de exceção para conter a violência | Crédito: Karen Toro/Reuters

Os acontecimentos recentes no vizinho Equador, com a escalada da violência patrocinada pelo crime organizado chegando a níveis absurdos, parecem distantes, fruto de uma realidade que aparenta ter pouco em comum com o Brasil. As aparências, ou as diferenças entre os dois países, podem até levar a tal conclusão numa análise superficial, o que muito provavelmente mudará como resultado de reflexões mais profundas. Como sabido, ações do crime organizado, associado ao tráfico de drogas que transformou o país na principal rota de exportação de cocaína para América do Norte e Europa, chegaram a um nível que o próprio governo local define como de insurgência ou, mesmo, guerra aberta.

Há quem pense que o Brasil esteja longe disso, o que bem pode ser ideia enganosa ou leniência que só faz agravar a questão à falta de um enfrentamento mais incisivo. Cabe reconhecer que de longa data o Rio de Janeiro é algo comparável a uma terra de ninguém ou, antes, terra do crime organizado, dividido entre o tráfico de drogas e milícias com suas múltiplas atividades criminosas. Favelas, ou como é dito agora, comunidades, estão ocupadas e a afirmação está longe de ser algo como força de expressão, já que são territórios onde o Estado não entra, não tem poder algum. Ao contrário, permite que o crime tome conta de tudo e de todos, numa escalada que deveria ser impensável.

Como a revelação de que o andamento de obras públicas no Rio de Janeiro, hoje, depende de “autorização” do crime organizado, evidentemente em troca de gordas propinas. Aconteceu ainda agora nas obras de construção de um parque público que ocupará o terreno do campus da antiga Universidade Gama Filho. A cobrança chegou acompanhada da ameaça de paralisação das obras, tudo acabando em denúncias às autoridades locais, que deram a entender que esta seria uma prática corriqueira, e também a Brasília. Recentemente, conforme também noticiado, a questão foi tratada entre representantes do Ministério da Justiça e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. O próprio ministro Flávio Dino acompanha o que se passa, prometendo reação à altura, enquanto a Polícia Federal sustenta que “vamos agir”.

Existem indicações de que a ação criminosa, nesse contexto em particular, já não se limita ao Rio de Janeiro ou exclusivamente a obras públicas. Chegar a este ponto é, talvez, a mais cabal demonstração de que o que se passa hoje no Equador pode ser apenas a antecipação do que nos aguarda num futuro que não parece distante.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas