Fantasmas convenientes
É preciso reduzir aos seus devidos termos essa ideia de classificar como terrorista o crime organizado cujos avanços no País são de fato muito preocupantes. E partindo da constatação elementar de que uma coisa não tem nada com a outra e, ao mesmo tempo, que o próprio conceito de terrorismo, se importado e de origem conhecida, não guarda nada, ou quase nada, que de fato possa assim ser classificado. Para que caibam nesse guarda-chuva um tanto conveniente tanto quantos possam incomodar, casos entre muitos outros exemplos, dos que se colocaram contra a invasão e ocupação de seus países no já distante Vietnã e, mais recentemente, no Iraque e Afeganistão.
Também no Brasil, embora em circunstâncias muitíssimo diferentes, podem ser encontrados exemplos que não deixam margem para dúvidas. Eram também “terroristas” todos que se colocaram – e lutaram – contra o regime de exceção implantado com o golpe de 1964, mantendo acessa a chama que duas décadas mais tarde possibilitou a redemocratização do País. Hoje são lembrados e reverenciados como heróis e sobre este fato, que é História, simplesmente não pode existir dúvidas que mereçam mínimo crédito.
E da mesma forma como não é nada difícil perceber como e porque a realidade foi sendo moldada conforme conveniências até chegar ao ponto em que surgiu o termo “narcoterrorismo”, com mesma origem e igual conveniência. De um lado para desmoralizar e comprometer o “inimigo”, repetindo assim elementar tática de guerra. Segundo, para, digamos, “flexibilizar”, facilitando e buscando justificativas para os ataques que vêm acontecendo na Venezuela e aconteceram também na Colômbia. Sem qualquer prova, sem qualquer elemento que escape ao rótulo de rudimentar violência. Fato consumado como aconteceu não faz muito tempo como pretexto para a invasão do Iraque onde existiria devastador arsenal de armas químicas, mas do qual, consumado o ataque, não mais se ouviu falar.
São, afinal, os jogos do poder ou, mais apropriadamente, os jogos da guerra, sem nada de objetivo que caiba mesmo no vasto balaio da bandidagem do Rio de Janeiro, talvez como os “bicheiros” no passado, modernamente o “crime organizado” por trás das facções que se espalharam pelo País. O crime em escala vertiginosa e um tanto perigosa, a ser combatido, dentro da lei e com todos os meios de que o Estado possa dispor, tudo isso sem conotações políticas para as quais absolutamente não existe espaço se não na imaginação daqueles que ainda preferem acreditar em milagres.
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