A faxina não pode esperar

As contas públicas da União relativas ao exercício passado registraram um déficit de R$ 230,5 bilhões, valor que equivale a 2,12% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O resultado, que foi também o pior desde 2020, ficou distante dos R$ 70 bilhões que o ministro Fernando Haddad chegou a apontar como esperado para 2023, tornando ainda mais distante a perspectiva de que as contas reencontrem seu ponto de equilíbrio ainda neste ano. Conforme as informações do Ministério da Fazenda, o déficit foi inflado principalmente pelo pagamento de precatórios, suspensos na gestão anterior e assim acumulados.
Também chamaram atenção nos números apresentados o déficit da Previdência Social, em conta paralela, que chegou a R$ 306,2 bilhões no ano passado, evidenciando que as mudanças até agora realizadas no sistema foram pouco mais que cosméticas.
O cenário afinal confirmado, em cuja composição entram também os gastos descontrolados da gestão anterior, especialmente em 2022, revela também que a ideia de que o reequilíbrio poderia vir de forte aumento nos ingressos foi, se não uma cortina de fumaça, equívoco que leva a uma outra questão, conforme já cuidaram de apontar alguns estudiosos. Trata-se da necessidade de encarar o excesso de gastos, de trabalhar na qualidade desses gastos e reduzir desperdícios, além de, evidentemente, afiar a tesoura dos cortes que não pode mais continuar engavetada.
Sem lugar para dúvidas ou questionamentos, essa deve ser a primeira e mais importante conclusão diante da realidade que está vindo à luz. E cortar gastos, em havendo seriedade, significa encarar o desafio de banir despesas ordenadas a partir das três esferas do poder e que são na realidade descarados desafios ao bom senso, se não ao próprio decoro. Estamos apontando na direção dos marajás cujos ganhos ignoram solenemente o teto legal, poderíamos apontar também os funcionários fantasmas que só existem porque têm bons padrinhos ou, quem sabe, falar dos benefícios vitalícios reservados a filhas – solteiras? – de militares. Uma lista que não acaba antes que sejam apontados os mais diversos “auxílios” ou as figuras ridículas dos funcionários cuja única função é ajudar magistrados a ajeitar suas cadeiras e togas. Trata-se de cortar no topo da pirâmide, deixando no solo os jatinhos reservados às duvidosas excelências e, porque não, também reduzir a frota de carros oficiais ao realmente necessário.
A lista está pronta e é suficientemente conhecida, não cabendo dúvidas quanto ao procedimento exigido. Dúvidas que, se não derretem diante do rubor de seus patrocinadores, não têm como resistir aos números agora revelados.
Ouça a rádio de Minas