Editorial

Flutuação cambial no Brasil: é preciso procurar a verdade

Nas últimas semanas, o País deve ter sofrido um ataque especulativo de proporções inéditas
Flutuação cambial no Brasil: é preciso procurar a verdade
Foto: Reprodução Adobe Stock

São fortes as razões para acreditar que o País possa ter sofrido nas últimas semanas ataque especulativo de proporções inéditas fazendo a cotação do dólar flutuar de maneira tão indesejada quanto artificial. Em primeiro lugar, e repetindo o que já foi dito neste espaço, a economia brasileira absolutamente não está imbicada em trajetória descendente. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para além do esperado e apontado no início do ano é o melhor dos sinais, sobretudo quando acompanhado de indicadores como redução do desemprego e elevação da renda e do consumo. Também não é próprio que o imaginado fim do mundo ganha cores mais nítidas por conta da pouca atenção dada aos gastos públicos, sendo bastante lembrar que o País chegará ao último dia do ano com metade do déficit que era previsto em janeiro, conforme estimativas do “mercado”.

São fatos, são dados da realidade que em nada combinam com a flutuação cambial e mais se aproximam manipulações deliberadas. E tudo, vale lembrar, anabolizado a partir de um perfil falso que, abrigado na rede X, atribuiu ao futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, declarações alarmistas que ele nunca deu, mas de início tomadas como verdadeiras. A literal histeria, nutrida por fake news, partiu desse momento, agitou fortemente o mercado financeiro e analistas de conveniência, tudo sem que os mais elementares procedimentos de checagem fossem cumpridos.

É de se esperar, sobretudo depois que a proposta de corte de gastos encaminhada pelo Executivo ao Congresso foi aprovada sem deformações sensíveis e, muito menos, sem a “desidratação” que chegou a ser apontada como certa, que os especuladores se recolham, que o “mercado” silencie por um tempo, mesmo que passe longe da penitência de tentar explicar o que aconteceu e porque aconteceu, assumindo culpa e responsabilidade. Também deverão cair na vala comum do esquecimento providências para, pelo menos, contar os prejuízos, apontando quem perdeu e desnudando quem ganhou. Depois de tanta turbulência não é razoável que reste apenas indiferença e esquecimento, exatamente como aconteceu com aqueles que imaginavam – e antecipavam como verdadeiros oráculos – que a estas alturas o Brasil já seria “a nova Venezuela”.

É natural e desejável, absolutamente saudável, que cada um tenha suas preferências e que suas escolhas sejam consequentes. Nada, porém, que possa levar ao atropelo de interesses maiores, que permita que se confunda o público e o privado, para ganho de poucos e prejuízo da maioria, exatamente como pode ter acontecido agora.

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