Editorial

Fórum Econômico Mundial foi ofuscado pela posse e primeiros dias do governo Trump

Dados apresentados pelo evento não tiveram a merecida repercussão na mídia
Fórum Econômico Mundial foi ofuscado pela posse e primeiros dias do governo Trump
Crédito: Reprodução Twitter Oficial Fórum de Davos

Tendo coincidido com a posse e primeiros dias de governo do presidente Donald Trump, a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, perdeu força e expressão. Foi na verdade um tanto ofuscada, passando despercebida apesar da relevância dos temas tratados. Dentre eles, dados da Oxfam – a organização não governamental vinculada à Universidade de Oxford e voltada para estudos sobre desigualdade e fome no planeta – apontando que na atualidade pelo menos 3,6 bilhões de indivíduos vivem abaixo da linha da pobreza, em condições de miséria, portanto. Tendo como fonte principal dados do Banco Mundial, o estudo destaca também que o número se mantém estável desde 1990, o que não acontece na direção oposta.

Somente no ano passado o planeta ganhou 204 novos bilionários, ou quase quatro por semana, integrados a um grupo que já soma 2.769 pessoas cuja fortuna apenas em 2024 engordou em US$ 2 trilhões. Este valor, convertido para a moeda local, alcançaria exatos R$ 12,1 trilhões. Os avanços anotados no processo de concentração da renda global levaram a Oxfam a rever sua previsão de que nos próximos 5 anos surgiria no planeta o primeiro trilionário. Serão 5 pessoas e não apenas uma com patrimônio acima de US$ 1 trilhão.

Os estudos divulgados em Davos chamaram atenção também para o fato de que pelo menos 36% das pessoas extremamente ricas chegaram a esta condição por herança e não como consequência de bons negócios e bons resultados em empreendimentos próprios. A organização estima que nos próximos 30 anos mais de US$ 5 trilhões serão transferidos por herança, supondo-se que com prováveis perdas para o processo de reinvestimento em escala produtiva.

Pensar no futuro, sobretudo se imaginando que novos tempos possam, ou deveriam, significar prosperidade em escala crescente, assim contribuindo também para conter fluxos migratórios indesejados e ajudar a promover estabilidade nos campos político e social, demanda conhecer melhor os dados agora apresentados. E entendendo que do ponto de vista da maioria, da grande maioria da população de nosso atormentado planeta, a concentração da renda perpetua e amplia desigualdades que não deveriam persistir. Se não por altruísmo, se não pela prevalência de valores que deveriam ser universais e verdadeiramente próprios da condição humana, pelo menos pela compreensão elementar de que tal disfunção representa um grande risco, talvez o maior de todos.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas