O gargalo rodoviário

O sistema rodoviário brasileiro envelheceu e caducou. Os principais troncos rodoviários, projetados e construídos a partir da metade do século passado, sofreram, durante todos estes anos, não mais que remendos, passando distante das correções que, para muito além da mera manutenção, deveriam ter em conta o aumento da frota circulante, assim como as características dos próprios veículos que evoluíram ganhando desempenho e velocidade, condições incompatíveis com o espaço a eles destinados. Assim, o aumento do número de acidentes e, sobretudo, a letalidade dessas ocorrências resultam, em larga medida, desse descompasso estrutural. Algo da maior relevância se considerado que a malha rodoviária responde, hoje, pela movimentação de aproximadamente 70% das cargas transportadas no País. Pior ainda, absorve 90% do transporte de passageiros, conforme dados divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Além de inadequada do ponto de vista técnico, a malha rodoviária padece também da falta de manutenção minimamente satisfatória, problema já percebido e apontado nos anos 80 e 90 do século passado. Caracteriza-se literalmente situação de abandono ao longo das últimas décadas, precarizando ainda mais a movimentação de veículos sobre rodas, assim elevando custos que afetam o desempenho e competitividade da indústria nacional. Tudo sem ser preciso apontar que a insegurança foi elevada a proporções epidêmicas, com perdas humanas que não têm preço e custos socioeconômicos de monta.
Uma realidade que está bem retratada nas condições da malha rodoviária mineira, a mais importante do País na medida em que o Estado, por conta de sua posição geográfica, abriga o maior entroncamento rodoviário brasileiro. Dados colhidos pela CNT e agora divulgados mostram que nos pouco mais de 15 mil quilômetros levantados foram encontrados 383 pontos críticos, o que significa que ao percorrer 44 quilômetros o usuário encontrará um ponto crítico e de alto risco. Na comparação, são as piores condições encontradas no País.
Essa verdadeira radiografia que a CNT realiza e divulga anualmente mostra um processo continuado de deterioração, portanto também de agravamento de riscos e condições de circulação. Na mesma medida exibe a inércia do setor público que não foi capaz sequer de colocar de pé um programa de privatizações e concessões à altura das necessidades daquilo que seria a espinha dorsal do sistema de transportes no País.
O tempo perdido, a ilusão de que investimentos privados poderiam ser a chave para a solução da questão, só fazem ressaltar que a questão é crucial para o País, que continua esperando as respostas que não vêm.
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