Guerra não declarada

Dia desses, em São Paulo, em mais um daqueles episódios já incorporados à rotina das grandes cidades, um motoqueiro vestido como entregador se aproximou de um automóvel para assaltar o motorista. Não contava que o dito fosse policial, que, armado, reagiu e deu três tiros no assaltante. Mas o que teria sido mais um óbito resultou apenas em ferimentos porque o assaltante vestia um colete balístico. Não consta que fosse alguém ativo participante e a serviço do crime organizado e sim um pequeno meliante, talvez daqueles que pudessem ser classificados entre os que apenas aproveitam a ocasião, o descuido da vítima.
O caso sem lugar para dúvidas impressiona e mesmo com o crime tão banalizado, deveria chamar mais a atenção. Como afinal imaginar que aquele que no noticiário policial seria chamado simplesmente de “ladrãozinho”, que talvez antigamente merecesse a classificação de “ladrão de galinhas”, seria preso e em seguida liberado pelo “doutor delegado”, possa chegar ao requinte de atuar usando colete balístico? Cabe indagar também onde andaria agora o autor, que só acabou apanhado porque foi ferido também no rosto. E cabe pensar mais a respeito, não aceitar que tudo isso seja apenas a rotina desagradável hoje comum às grandes cidades brasileiras.
Parece que chegamos ao limite, para além de um ponto que jamais poderia ter sido ultrapassado. Com as organizações criminosas, ativas e quase absolutamente impunes, indo muito além de seu campo de atuação para se estender em ramificações variadas no mundo dos negócios, da atividade empresarial dada como regular. Primeiro no transporte coletivo urbano, agora também no varejo de combustíveis que chegam às bombas depois de um processo de “batismo”, conforme recentemente apurado e revelado. E presentes também na política, nas atividades parlamentares, conforme evidências que são cada vez mais fortes além de verdadeiramente assustadoras.
Quando se constata que o crime organizado já não depende de fornecedores externos porque conta com sua própria estrutura de fabricação de armamentos pesados, de metralhadoras a fuzis sofisticados, resta somente a conclusão de todos os alarmes, todas as luzes vermelhas deveriam ter sido acionadas faz tempo. No entendimento elementar de que estamos diante de uma situação de guerra aberta, não faltando sequer territórios ocupados e que o Estado já não alcança. Reagir já não é apenas uma opção e sim o entendimento de que a alternativa que resta seria apenas a capitulação.
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