Hora da verdade

Houve um tempo em que a tal “República de Curitiba” parecia ser, se é que não chegou a ser, o centro das decisões no País, sede do poder real e do comando de uma quase messiânica guerra à corrupção.
Deveria ter sido o bastante para que quem tivesse olhos para enxergar percebesse as proporções da farsa então montada. Com tantas falhas, tantos erros que nos permitem afirmar, nesse mesmo espaço, que em toda aquela movimentação parecia existir mais ambições que virtudes. Como costuma acontecer, o tempo se encarregou de apontar a verdade, bem resumida pelo ministro Dias Toffoli que “tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra a lei”. Buscava-se, como foi dito e repetido em editoriais publicados nessa página, não mais que um atalho para a rampa do Palácio do Planalto.
Recuperar a verdade não pode ser, agora, apenas um exercício de retórica ou de revisão dos acontecimentos. Cabe ir até o fim. Primeiro, para apurar responsabilidades e, desta vez, bem ao contrário de momentos anteriores, não permitir que a impunidade se transforme em uma espécie de bônus para os faltosos. Cabe igualmente levantar os prejuízos e o volume final das perdas tanto para o setor público quanto para o privado. Quem será responsabilizado pelo virtual desmonte da indústria da construção pesada no País, justamente o melhor espaço ocupado por empresas de capital nacional? E como, afinal, serão indenizados os milhões de brasileiros que perderam renda ou, por inteiro, seus postos de trabalho?
Um resgate muito provavelmente impossível se ser satisfatoriamente materializado, mas de qualquer forma, um balanço que merece ser entendido como crucial porque só assim será conhecida a extensão dos danos. Ou da tragédia, sem antecedentes equivalentes, que se abateu sobre o Brasil.
Também não cabe qualquer tentativa de reduzir os acontecimentos à dimensão reduzida de rivalidades políticas, de diferenças nessa órbita, conforme discursos que, mesmo que quase solitários, ainda tentam reduzir os fatos a uma proporção menor como se fosse possível diminuir sua importância e consequências. E, assim, encobrir a verdadeira natureza dos acontecimentos recentes, sua autoria e responsabilidades. Negar a realidade, atribuir culpa às vítimas tem sido, ao longo da história, comportamento padrão e nada parece diferente agora. Até porque falta de imaginação, ou presunção de impunidade, foi – e continua sendo – também algo constrangedoramente repetitivo.
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