Hora de dar meia volta

Em menos de três décadas a China, partindo praticamente do zero, se transformou na maior produtora mundial de automóveis e, estima-se, em mais 6 anos terá um terço do mercado mundial. Algo para ser observado e, em especial, o fato daquele país concentrar suas atenções, hoje, nos veículos tracionados por motores elétricos, em substituição aos motores a explosão. Claramente mira o futuro, tanto quanto o fazem as montadoras ocidentais que têm atuação global. Apesar da força dessa rápida transformação, escorada nas questões ambientais, na baixa eficiência dos motores a explosão e nas restrições econômicas ao uso de combustíveis fósseis, o Brasil ainda não parece ter percebido o que se passa.
Literalmente, continua olhando pelo retrovisor.
A indústria de material de transporte local, que chegou a ter algum peso no contexto global, prossegue atrelada a multinacionais europeias, norte-americanas e japonesas. São empresas, quase todas, em declínio, como a Ford, que já deixou o país, ou a General Motors que faz tempo perdeu a posição de líder global e igualmente ameaça deixar o país. E por conta de seus próprios equívocos e não, como tentam fazer crer, de dificuldades locais. Não por acaso uma fábrica desativada pela Ford na Bahia foi comprada por empresa chinesa que há pouco tomou da Tesla a liderança na produção de automóveis elétricos.
Emblemático.
Desinteressadas em investimentos locais, se não incapazes de manter seus espaços, essas mesmas empresas pressionam o governo brasileiro para não estimular a produção de veículos elétricos. Fazem aqui, como em tantas outras ocasiões, justamente o contrário do que fazem lá fora, onde o banimento dos motores a explosão é caminho sem volta. É o seu jogo, fácil até de ser compreendido, embora não haja como entender que o Brasil caia nessa armadilha, mais uma vez, como aconteceu com a indústria da informática, imaginando ser possível adiar o futuro.
Bem ao contrário, a transição, que no seu formato atual parece ser uma etapa intermediária para o uso do hidrogênio e células de combustível, livre da dependência de baterias carregadas por eletricidade, já pode ser definida como um processo consolidado, sem volta. Quem não enxergar ficará para trás. Para o Brasil, o cálculo equivocado poderá acabar se transformando em mais um degrau abaixo no processo de desindustrialização, que já aniquilou a indústria de autopeças e assim poderá chegar às montadoras.
Cabe observar, cabe aprender e, com certeza, cabe também dar meia volta.
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