Editorial

A intrigante flutuação do câmbio nas últimas semanas

Falta de fatores internos ou externos marcam desvalorização do real frente ao dólar nas últimas semanas
A intrigante flutuação do câmbio nas últimas semanas
Foto: Reprodução Adobe Stock

A flutuação do câmbio nas últimas semanas, a desvalorização do real frente ao dólar, constituem fenômeno um tanto intrigante, principalmente diante da falta de fatores internos ou externos capazes de explicá-lo. No front externo, em que os mais destacados, de momento, fatores de instabilidade, conflitos entre russos e ucranianos e entre israelenses e palestinos, não apresentaram no período fatores de risco inusuais, da mesma forma que na economia global não são notadas perturbações que possam explicar os acontecimentos.

E da mesma forma acontece com relação ao Brasil, onde a alta do dólar foi atribuída, principalmente, às criticas do presidente da República à condução do Banco Central, sobretudo no que toca à política monetária.

Considerações nessa direção não poderiam deixar de colocar na mesma balança os 8 anos em que o então vice-presidente José Alencar bateu na mesma tecla, chegando a apontar os juros praticados no País como “indecentes”. Críticas persistentes que não foram suficientes para produzir qualquer efeito, da mesma forma como não tiveram consequências, antes ou agora, as investidas de lideranças empresariais, como os comandos das confederações da indústria e do comércio, contra a política de juros que sufoca a produção e privilegia a especulação.

Igualmente cabe assinalar que variações cambiais indesejadas, capazes de perturbar a produção e o comércio com reflexos negativos na inflação, também não guardam relação aceitável com o comportamento dos fundamentos da economia. Os principais indicadores, cabe assinalar, apresentam curvas positivas, seja com relação à própria inflação, desemprego, renda, consumo e produção. Muito provavelmente o suficiente, fossem efetivamente normais as condições, para induzir movimento contrário no câmbio, de valorização do real.

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Tudo isso coloca a hipótese de especulação, abrigada pelos mais variados interesses, como ponto a ser considerado e, se possível, esmiuçado. Igualmente caberia indagar como e porque, ao contrário do que era sistemático em momentos passados, que não tenha havido qualquer movimento do Banco Central no sentido de intervir no mercado de câmbio, vendendo dólares para deter a curva ascendente. Com as confortáveis reservas em moedas fortes de que o País dispõe, este seria um movimento previsível, elementar até, conforme aponta qualquer manual de economia confiável e acreditado.

A indagação fica no ar, podendo sugerir, no mínimo, algum tipo de pirraça, quando não um movimento político deliberado, tudo isso à custa do que realmente interessa ao País.

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