Editorial

Jogo para perdedores

Combate ao crime organizado deve ser feito com trabalho continuado de inteligência, diferentemente do que foi visto no Rio de Janeiro, na semana passada
Jogo para perdedores
Foto: Jose Lucena / Reuters

Passados o susto e a perplexidade que tomaram conta do País a partir dos acontecimentos da última terça-feira no Rio de Janeiro, é preciso que a razão afinal prevaleça. De pronto, e como já foi dito para que a sensação do mais do mesmo numa escalada que parece ter atingido o cume, abra espaço para reflexões que, mesmo um tanto tardias, são fundamentais levando assim a decisões que não podem mais ser procrastinadas. Claramente o jogo de força, que coloca em risco tudo e todos, não faz sentido, sobretudo diante de oponentes que se movimentam e agem como guerrilheiros, portanto quase sempre em vantagem. Não deu certo na terça-feira passada, não deu certo ao longo dos anos em que a marginalidade foi ocupando espaços para poder chegar ao ponto de ameaçar o próprio Estado e depois de se infiltrar nos estamentos da sociedade.

A troca de tiros, que se repete todos os dias, e esta banalizada não passam de um espetáculo de baixa qualidade e que pode estar servindo a interesses dissociados de tudo aquilo que verdadeiramente representa a sociedade. Apenas mais do mesmo, cabe repetir porque continua faltando metodologia e ate mesmo estratégia. Na semana passada nem mesmo a Prefeitura do Rio de Janeiro estava a par da situação, o mesmo acontecendo com a alta administração federal, o que teria poupado ao governador local o vexame de dizer-se sozinho para em seguida reconhecer que não pedira ajuda.

Eis a realidade desnudada, tal como se apresenta e certamente para favorecer tudo que se passa à margem da lei. Com certeza uma guerra não pode ser enfrentada dessa forma, menos ainda produzir resultados que não sejam igualmente corrosivos. É preciso haver, definitivamente, coordenação e integração, o que elementarmente significa somar forças e unificar estratégias e ações. É preciso entender que o confronto, tal como na terça-feira passada, impõe riscos que não podem ser assumidos, repetindo e reproduzindo o fracasso de outras ocasiões.

A chave é o trabalho continuado de inteligência, é a infiltração silenciosa, mas determinada, expurgada dos riscos da corrupção que em larga escala mina os esforços mais consistentes. É a integração, o trabalho conjunto que signifique soma, esforços combinados, e não mais a subtração como quer o governador, que se diz sozinho e abandonado, enquanto prospera a troca de acusações e a ideia de que o culpado é sempre o outro. Só se pode, afinal, esperar agora que dos acontecimentos de terça-feira passada fique a lição e a esperança de que confrontos, tiroteios, balas perdidas, barricadas, o caos por inteiro, afinal comecem a refluir.

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