Editorial

Bolsa Família e bets: jogos eletrônicos podem tirar a comida da mesa do brasileiro?

A informação de que beneficiários do Bolsa Família estariam utilizando o auxílio mensal nos jogos eletrônicos preocupou o governo Lula
Bolsa Família e bets: jogos eletrônicos podem tirar a comida da mesa do brasileiro?
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Quando decidiu liberar o funcionamento de plataformas de apostas que operam através da internet, o governo federal imaginou ter encontrado uma espécie de atalho para reforçar sua arrecadação e, dessa forma, encurtar a caminhada em direção ao reequilíbrio das contas públicas. Tudo sem se dar conta que na realidade estaria abrindo as portas do inferno, para repetir expressão utilizada pela presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, diante da informação de que parcela da população mais pobre, assistida pelo programa Bolsa Família, estaria utilizando o auxílio mensal nos jogos eletrônicos.

Como já foi comentado, teria sido o bastante para mobilizar o governo, com o presidente Lula à frente, todos igualmente escandalizados e, imaginava-se, dispostos a corrigir a rota com contundência proporcional à ofensa. Até agora não foi o que aconteceu, com o assunto mais perto de entrar na rota de “estudos” que nunca são concluídos. Mesmo depois da reunião de quinta-feira, a impressão que fica é que continuamos distantes da intensidade que a questão requer, tudo isso no mesmo País em que cassinos são proibidos sob o argumento de que a jogatina contrariaria preceitos religiosos.

E como, afinal, entender de outra forma a revelação de que recursos do Bolsa Família estariam alimentando plataformas de apostas provocou rubor em Brasília, mas até agora nenhuma resposta à altura e com agilidade proporcional à perplexidade provocada pelas informações do Banco Central. Não aconteceu o corte preciso, cirúrgico e imediato porque não faltou quem entendesse que não caberia ao governo, sob risco de danos aos direitos e à liberdade individual, arbitrar sobre a destinação final do auxílio. Mas, como não poderia indagar qualquer indivíduo minimamente equilibrado, se também o que está determinado são verbas destinadas a cobrir necessidades básicas dos mais pobres, alimentação em especial? Jogos e apostas poderiam ser enquadrados?

Não seria este um caso de prudência, de zelo no esgotamento de possibilidades ou riscos diante de qualquer decisão sensível. Transparece sim, desvios em entendimentos que deveriam ser planos, o que acaba pondo em riscos processos que não os permitem, como no caso precisamente. Tudo isso para desnudar também deformações na esfera pública que não devem ser toleradas, mas diante das quais a maioria se cala, se omite. Concluindo, terreno fértil precisamente para deformações como as que vieram à luz nestes dias.

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