Taxas de juros no Brasil: se o remédio fosse bom, o paciente estaria curado

Se o remédio fosse bom, e ministrado por décadas a fio, por óbvio o paciente estaria curado faz tempo, sobrando assim a conclusão de que, dependendo da dose, sobressai o risco de que se transforme em veneno. Estamos falando das taxas de juros praticadas no Brasil, que, mesmo continuando a figurar entre as maiores do planeta, quando não precisamente a maior, voltaram ao centro das preocupações dos setores produtivos com o anúncio de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, em sua última reunião aumentou a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual, chegando assim aos 12,25% ao ano, com viés de alta para os próximos dois meses. Pelo menos.
Dizem os técnicos do Banco Central que o que entendem como cautela, extrema cautela, é necessária diante de um cenário “mais adverso para a convergência da inflação”, acrescentando que “a evolução do cenário econômico demanda uma política monetária ainda mais contracionista”. Para o BC, a fragilidade da política fiscal afetou, de forma relevante, os preços dos ativos, expectativas de inflação e taxa de câmbio, contribuindo para uma dinâmica mais adversa”. Referência explícita à frouxidão do Executivo no tocante ao corte de gastos, porém um tanto contraditória ao desconsiderar que a mais pesada conta jogada no colo do Tesouro Nacional é – e de longe – precisamente o serviço da dívida interna. Sendo o Tesouro o maior dos devedores, é, portanto, também o mais afetado pelos juros mantidos em patamares que o ex-vice-presidente José Alencar repetidamente classificou como “indecentes”.
Tão simples quanto óbvias são também as reações de empresários, representantes dos setores produtivos. Caso da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), que externou sua profunda preocupação com a decisão do Copom, ressaltando que juros excessivamente altos podem gerar mais danos à economia do que oferecer soluções eficazes e recomendando ação contrária e urgente como essencial para estimular o setor produtivo e evitar um ciclo de estagnação na economia. Reações semelhantes ocorreram em todo o País, sempre remarcando não ser possível dissociar que a manutenção do bom desempenho da economia, com crescimento da produção e desemprego baixo, é igualmente de extrema e imediata importância.
Caberia considerar, para concluir, que sinais perturbadores, alcançando o câmbio e a inflação, podem e devem ser debitados, no presente, muito mais às condições externas, onde as incertezas são por certo muitíssimo maiores que as encontradas no ambiente interno.
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