O legado olímpico no Brasil foi só uma ilusão?

Na quinta-feira (25), coincidindo com a abertura das Olimpíadas de Paris, a pira olímpica instalada na Candelária, Rio de Janeiro, para marcar os jogos de 2016 foi reacendida. Um gesto simbólico, mas talvez não com o sentido imaginado pela Prefeitura da cidade e a um custo de R$ 70 mil, o necessário para apagar as marcas do abandono na bela escultura do norte-americano Anthony Howe. Igualmente para fazer lembrar que o decantado “legado olímpico” não foi mais que ilusão, tanto quanto a esperança de que a realização dos jogos marcaria a inserção definitiva do Brasil no cenário turístico mundial.
Foi um custo exageradamente alto para tudo aquilo que, como a escultura de Howe, não passou de mais um delírio, por sinal adiante repetido e em circunstâncias muito parecidas com a Copa do Mundo de Futebol. Acender a tocha olímpica no Rio de Janeiro, assim como fora feito em 2021 na abertura dos jogos de Tóquio, e devolver movimento à escultura cinética concebida para ser o marco definitivo e permanente da passagem dos jogos pelo Brasil, na realidade nos faz lembrar que desperdício e gastos desmedidos não raro alcançam proporções escandalosas. Reflexão bastante oportuna quando, mais uma vez, o País se vê diante da contingência de cortar gastos para tentar, pelo menos, maquiar o mau estado das contas públicas.
O que não se pode é esquecer, recordar o brilho das festividades e deixar de lado a frustração do legado que deveria ter sido, na realidade, o maior saldo da Olimpíada. Equipamentos destinados à pratica de esportes e à formação de atletas custaram caríssimo, mas foram abandonados, acomodações para receber delegações seriam convertidas em moradias permanentes e a mobilidade urbana contemplaria finalmente a eliminação de seus gargalos, enquanto equipamentos de hotelaria dariam suporte ao incremento do turismo. Nada aconteceu como esperado e prometido e o esquecimento, o fazer de conta que não houve nada de excepcional, é o mesmo que não aprender, criadas assim as condições para que tudo se repita.
Devolver a chama e movimentos à bela pira olímpica não muda nada, mas chama atenção para o indesejável, para o que não deveria ter acontecido e, quem sabe, faça mais que chamar atenção para o desperdício, para tão pouco caso com os sempre escassos recursos públicos.
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Aprender, ainda que tardiamente, já será algum beneficio, inclusive no sentido de reacender também a possibilidade de que outros esqueletos, não apenas os olímpicos, que permanecem abandonados, esquecidos e apagados, ainda possam ganhar o brilho das coisas bem feitas, ajudando a minimizar prejuízos, revelando que temos pelo menos memória.
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