Editorial

Lições que vêm do Rio Grande do Sul

Importante enxergar a força positiva contida nos acontecimentos que ajudaram os brasileiros a reencontrar sua melhor face, porém sem deixar de apontar os que ainda teimam em caminhar na direção contrária
Lições que vêm do Rio Grande do Sul
Doações para o Rio Grande do Sul | Crédito: divulgação/comunicação Portos RS

A extensão dos danos causados pelas inundações no Rio Grande do Sul muito provavelmente não encontrará paralelo no passado naquele Estado ou em qualquer outro ponto do território nacional. Eis a dimensão da tragédia que roubou vidas, deixou centenas de milhares de pessoas desabrigadas, além de produzir danos econômicos igualmente sem paralelo, com as atividades produtivas no Estado praticamente paralisadas há quase um mês. Como é sabido, as reações ao acontecido foram imediatas, provocando em todo o País movimentos de apoio e solidariedade também sem precedentes. Essa vasta rede, que vai muito além das doações de alimentos ou vestimentas, exibe, conforme já foi dito neste espaço, a melhor face dos brasileiros assim como deixa perceber que as divisões internas podem sim ser apagadas e superadas, numa depuração que pode estar no seu momento inicial.

Trata-se de enxergar, de perceber a força positiva contida nos acontecimentos que ajudaram os brasileiros a reencontrar sua melhor face, porém sem deixar de apontar os que ainda teimam em caminhar na direção contrária. Dos saqueadores, gentalha que não tem qualificação e caminha na órbita da criminalidade, assim como aproveitadores de ocasião, estes provocando espanto e indignação, sobretudo, pela vinculação direta com o mundo político. Gente que ajudou e ajuda a espalhar notícias falsas, gente que não se comove com a desgraça alheia e dela busca tirar partido a qualquer custo. Como no caso há pouco denunciado de políticos que tentaram manipular a distribuição de doações buscando com esses movimentos deles retirar proveito. Chama atenção igualmente casos em que doações, de água, inclusive, chegaram a ser comercializadas.

Neste lado tão triste e tão doloroso, o que mais espanta é justamente a vinculação com a órbita política, mostrando até que ponto são capazes de chegar pessoas que se movimentam no espaço público e político nele transitando sem qualquer sensibilidade ou noção do sentido maior daquilo a que se propõem. Tudo isso para exibir uma vez mais quão rasteira pode se tornar a atividade um dia definida como a mais nobre entre todas de que podem se ocupar os humanos. Estamos todos diante, afinal, daquilo que de melhor e de pior somos capazes de fazer, uma lição a mais que nos chega do Rio Grande do Sul, inclusive, ou sobretudo, com as muitas evidências de que o bem pode ser mais forte, trazendo o conforto tão necessário neste momento.

Prosseguir sem perder o ânimo e a disposição para a tarefa de, primeiro, assistir e suportar a todos que buscam acolhimento e atenção para, na sequência, fazer o melhor na recuperação e reconstrução do que foi perdido, é a postura esperada e desejável. Tudo isso sentindo que este esforço coletivo pode também devolver a identidade comum à maioria dos brasileiros, livres de divisões artificiais e que não tem amparo nos objetivos maiores que verdadeiramente nos identificam. Tanto quando podem nos inspirar e motivar.

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