Editorial

Limites da razão

Redução do consumo de água tratada já vem sendo motivo de preocupação pelo Brasil
Limites da razão
Foto: Reprodução/Adobe Stock

De São Paulo e do Rio de Janeiro já vieram sinais de preocupação, além de alertas para a necessidade de redução do consumo de água tratada. Os reservatórios, associados ou não a usinas hidrelétricas, não se encontram em situação confortável e a situação pode piorar até a chegada do verão, com possibilidade de racionamento. Nada que seja de fato novidade ou que permita esquecer que as condições de abastecimento nas maiores e mais importantes áreas urbanas no País prossigam um tanto precárias, o que se repete também com relação à oferta de energia elétrica.

Existem problemas objetivos e que podem ser debitados à conta do acelerado processo de urbanização no País sem a contrapartida de investimentos nas necessidades mais básicas da parcela da população que migrou do campo para os espaços urbanos. Mas existe também dose considerável de imprevidência, ausência de cuidados que deveriam ser tomados como elementares. Não há como pensar diferente diante da informação de que no País 40,3% da água tratada se perde depois que sai dos sistemas de tratamento e antes que chegue aos consumidores. Eis o que nos conta o recém-publicado estudo “Demanda futura de água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas”, assinado pelo Instituto Trata Brasil. Outros números que impressionam: as perdas anotadas equivalem a 7,2 bilhões de metros cúbicos ou a 3 bilhões de piscinas olímpicas cheias.

Uma quantidade que bastaria para cobrir toda a demanda adicional de água projetada para as próximas décadas, sem qualquer necessidade de ampliação em mananciais já pressionados. E tudo porque faltam cuidados e investimentos elementares nas redes de distribuição, marcadas por vazamentos e desvios de natureza variada, o que precariza toda a infraestrutura disponível. Literalmente, tapar buracos pode ser a forma mais simples, mais rápida e mais barata de reduzir gargalos e garantir algum equilíbrio entre oferta e demanda, reduzindo situações de escassez e consequente desconforto para a população.

Exercício um tanto óbvio, especialmente para quem tiver em conta que a água poderá ser, e em futuro não muito distante, insumo crítico para o planeta e sua população. Algo tão delicado que poderá conferir ao Brasil, dono de reservas de água doce que se contam entre as maiores do planeta, condição estratégica ímpar. E também para provocar reflexões, desencadeando reações que não podem prosseguir apenas no plano das preocupações. Cabe reagir, cabe alterar o curso e tanto melhor será se isso acontecer antes que os alarmes já não possam ser acionados.

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