Editorial

Lula: do discurso pela reconciliação ao rancor e à amargura

Teimosia deteriorado a aprovação do presidente e números indicam que mudanças são necessárias, além de urgentes, para que o governo reencontre seu prumo
Lula: do discurso pela reconciliação ao rancor e à amargura
Crédito: Fabio Rodrigues- Pozzebom/Agência Brasil

Dizem os mais próximos que luzes vermelhas acenderam no Palácio do Planalto por conta das mais recentes pesquisas de avaliação do presidente Lula e de sua gestão. De fato, os números não são bons, traduzindo uma piora tanto inesperada quanto preocupante, assinalando a necessidade de revisão de estratégias e de comunicação. E sugerindo também que parece existir em Brasília, nos seus gabinetes mais bem situados, algo como uma teimosia que não faz sentido e pela qual, caso persista, será cobrado adiante um preço salgado.

Há quem considere que o presidente da República, que voltou à sua cadeira dizendo enxergar um País dividido e prometendo trabalhar para promover a reconciliação, esqueceu rapidamente o que disse. Teria prevalecido, em lugar do bom senso, o rancor e amargura diante dos acontecimentos que lhe custaram mais de 500 dias de prisão. Assim, o político habilidoso teria sido substituído por alguém de mau humor e disposto a acertar as contas com gestos mal calculados e nem sempre prudentes. Pior, sem capacidade para enxergar problemas no plano do cotidiano e que dizem respeito à gestão e à busca, digamos que mais empenhadas, de soluções. E tudo isso também para dar munição a seus adversários que, se não podem ser convidados para um aperto de mãos, deveriam ser ignorados pelo menos no plano mais visível.

O Lula habilidoso, nunca o supostamente rancoroso, sabe muito bem o que fazer e só lhe falta vestir a roupa adequada. Descendo do palanque, parando de jogar para a plateia, resistindo às tentações dos improvisos seja para falar do holocausto na Segunda Guerra, seja para elogiar e mandar rapapés para o vizinho Maduro, deixando de lado, nesse processo, questões administrativas internas, que tanto alimentam humores que vão aparecer em pesquisas de opinião ou engordam as redes sociais dos adversários.

O político que nas últimas décadas esteve no centro das atenções e por três vezes subiu a rampa do Palácio do Planalto, sabe perfeitamente o que fazer para reconstruir sua imagem agora e, adiante, recolher dividendos políticos na forma de votos. Essencialmente uma questão comportamental e de comunicação, talvez também com uma pitada de humildade, exatamente como fez há pouco ao reconhecer a expressão da manifestação comandada pelo ex-presidente Bolsonaro, em São Paulo.

Certo é, conforme apontam os números agora divulgados, que mudanças são necessárias, além de urgentes, para que o governo reencontre seu prumo, o que em bom português será o mesmo que dar mais atenção às questões que, de fato, tocam a sensibilidade de quem vota e de quem pode escolher. Tão simples quanto óbvio.

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