Por que Lula está errado em insinuar que a Vale reflete somente interesses e valores do “mercado”

O tal mercado, que não tem rosto nem endereço, mas se pretende dono de poder absoluto, acima do bem e do mal, está, mais uma vez, escandalizado. Agora por conta de declarações do presidente da República a respeito da mineradora Vale que, segundo ele, “precisa prestar contas ao Brasil”. Um entendimento elementar para qualquer País do primeiro mundo, aquele tipo de coisa que não precisa ser dita porque subentendida, mas aqui pretendem que soe absurda, sem propósito.
“A Vale não pode pensar que é dona do Brasil, que ela pode mais que o Brasil. As empresas brasileiras precisam estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo brasileiro”.
Alguém acaso imaginaria que uma empresa alemã, britânica ou estadunidense pudesse estar desalinhada com o governo de seus respectivos países? Alguém honesto afirmaria que a General Motors ou qualquer outra grande empresa nos Estados Unidos poderia escolher um presidente sem prévio alinhamento com Washington?
São regras absolutas e que não precisam ser faladas, melhor que não sejam faladas, apenas bem entendidas. Mas entre nós, por mais absurdo que possa ser, as coisas são dadas como diferentes. Como afinal imaginar que uma das maiores mineradoras do planeta, construída e levada aos píncaros do sucesso com recursos públicos e, mais, explorando minerais que são parte da riqueza nacional, possa ter vida própria, refletindo tão somente os interesses e valores do “mercado”?
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Como entender tanta preocupação enquanto ninguém levanta a voz para perguntar como e porque a mineradora foi privatizada, nos anos 90, por valor correspondente, talvez, a seis meses de seu lucro líquido, quantia ainda por cima financiada com dinheiro público? Um escândalo que muito convenientemente nunca saiu das sombras.
Na realidade, a esfera pública, acima de governos de momento, tem o dever e obrigação de acompanhar, pautar e controlar todas as atividades negociais que evidentemente não podem estar acima, ou desalinhada, do interesse comum, público. O mesmo se aplica à Petrobras e deveria ser elementar assegurar que não pode ser diferente com a empresa que tem a responsabilidade de cuidar das reservas de petróleo do País e, ao mesmo tempo, garantir o suprimento de derivados que são essenciais a tudo e a todos.
Repetindo, e para os que veem, muito convenientemente, impropriedades na fala do presidente da República, recomendamos apenas que procurem saber, precisamente e sem subterfúgios, quais são as regras e como as coisas funcionam nos países desenvolvidos. Seria abuso pretender que nessa banda do planeta não seja diferente?
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