Editorial

Mudar para deixar igual: mais um capítulo da novela da desoneração da folha de pagamento

Recentes debates indicam que as discussões continuam girando em torno de arranjos em um processo tão artificial, duvidoso
Mudar para deixar igual: mais um capítulo da novela da desoneração da folha de pagamento
Crédito: Reprodução Pexels

Ainda sem um enredo definitivo e, sobretudo, que possa ser dado como seguro, prossegue a novela da desoneração/reoneração das folhas de pagamento de empresas consideradas de mão de obra intensiva. Na semana passada coube à Câmara dos Deputados acrescentar mais algumas linhas ao assunto, agora para propor transição gradual, no prazo de três anos, para o retorno da cobrança da alíquota única de 20% sobre a folha. O texto prevê a redução gradual, entre 2025 e 2027, da alíquota que incide sobre a receita bruta e, na mesma proporção, aumento da alíquota sobre a folha que seria cobrada por inteiro a partir de 2028.

De qualquer forma, tudo faz crer, as discussões continuam girando em torno de arranjos, de acomodação e tendo como único alvo recuperar arrecadação, tudo num processo tão artificial, duvidoso, que chegou a ser proposta até mesmo a apropriação, pela União, de valores esquecidos em bancos por depositantes e que seriam destinados a um fundo para compor, parcialmente, as perdas apuradas. Nada que resolva de fato, nada que contribua para reduzir a insegurança jurídica que investidores entendem como um dos maiores entraves a seus negócios no País.

E ninguém também para lembrar como surgiu a desoneração, num momento de crise econômica mais aguda e consequente necessidade de expandir e facilitar a contratação formal de trabalhadores. Provisório o que deveria ser definitivo, além de abrangente e ao alcance de todos os empregadores, mantendo-se de pé um sistema em que mesmo salários baixos acabam com seu valor duplicado e num processo tão enviesado que não beneficia nem quem recebe tampouco quem paga. Enxergar a realidade sem os filtros da conveniência certamente traria de volta a ideia abandonada de uma grande e abrangente reforma, corrigindo distorções e apagando erros do passado, sem a necessidade de manobras como a desoneração.

Elementar, mas não necessariamente o caminho escolhido, razão porque as discussões agora em curso não avançam além da nada imaginativa proposta de retorno a um passado que todos sabem inconveniente e indesejado . E tudo apenas na tentativa de tapar buracos no orçamento que simplesmente não deveriam existir. E neste vai e vem, o principal – a geração de empregos formais e estáveis, além de bem remunerados – acaba ficando de lado, como se fosse assunto de menor importância e não o centro das discussões que faz sentido.

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Para concluir, e independentemente de como afinal será escrito o capítulo final dessa novela, sobra a certeza de que insegurança jurídica continuará sendo para o ambiente de negócios no Brasil uma das poucas certezas.

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