Editorial

Make America great again: um destino que parece estar em mãos erradas

Acontecimentos recentes como ataques a imigrantes, latinos principalmente, foram os mais recentes golpes à liberdade
Make America great again: um destino que parece estar em mãos erradas
FOTOS: ANTONIO LIMA/SECOM

O declínio do império britânico, erguido à custa do colonialismo e que no apogeu pôde afirmar que em seus domínios o sol nunca se punha, coincide com o pós-guerra. De fato, os conflitos na Europa, iniciados em 1918, foram determinantes também para o declínio do colonialismo, pelo menos em suas manifestações mais explícitas. E abriu espaços para a ascensão dos Estados Unidos, trazendo novos ingredientes à cena internacional, dentre eles a polarização em que a antiga União Soviética aparecia como a outra banda. E a encarnação do mal.

No decorrer desse processo, os Estados Unidos se apresentavam como a terra da liberdade, ou melhor, expressão do que diziam ser o “mundo livre”, a ordem que defendiam e buscaram fazer planetária. Tudo isso e como já foi dito neste espaço, sustentado por uma enorme máquina de propaganda com o duplo papel de desmoralizar “o outro lado” e consolidar seu próprio modelo. Mas não o suficiente para esconder suas contradições. Como a afirmação de que o país seria também o berço e altar da liberdade de imprensa, livre de qualquer controle estatal, porém sujeita ao jugo dos anunciantes. Tudo no melhor estilo. A imprensa, sim, é livre, porém os anunciantes também são livres para decidirem o destino de suas verbas. Simples e mortalmente eficaz.

Afinal, todos são livres e assim permanecerão enquanto não incomodarem o sistema. Livres, sim, para suportar sem discordar, tanto melhor se em silêncio. O processo de derretimento dessa construção vem, pelo menos, dos anos 70, com marcas como a derrota no Vietnã e o declínio econômico agora reconhecido quando o presidente Trump propõe make America great again. Uma verdade, mas um destino que mais e mais parece estar em mãos erradas.

O que pensar, o que dizer afinal de acontecimentos recentes como ataques a imigrantes, latinos principalmente, sem qualquer suporte legal? Simplesmente a prevalência da barbárie nas mãos de policiais mascarados, sem qualquer identidade ou amparo minimamente legal. Apenas a vontade de uma minoria ensandecida que se imagina supremacia. Estivessem em outras latitudes e seriam chamados de bárbaros terroristas. Ou também legítimos herdeiros dos métodos da Ku Klux Klan.

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Fina ironia para os autoproclamados campeões da liberdade ou, antes, para o país construído precisamente pelas mãos de imigrantes europeus que fugiam da fome ou de perseguições variadas. Gente que sonhou com a liberdade e a encontrou embora não tenha sabido consolidá-la, abrindo assim espaços para o que só agora pode ser mais clara e tristemente percebido.

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