Editorial

A maldição do petróleo

Mesmo com mudanças no horizonte, como a eletrificação veicular, a economia global continua orbitando em torno do combustível fóssil
A maldição do petróleo
Embarcação da guarda costeira da Marinha venezuelana opera na costa do Caribe | Foto: Juan Carlos Hernandez / Reuters

Apesar das mudanças que estão no horizonte ou avançam aos poucos, caso da eletrificação veicular, é fato que a economia global continua orbitando em torno do petróleo. Que prossegue com peso bastante para manter sua condição estratégica única, senhor absoluto da guerra e da paz, condição bem demonstrada nos acontecimentos recentes na Venezuela. O país, detentor das maiores reservas de óleo no planeta, condição que rivaliza com a Arábia Saudita, ganha relevância e é alvo de cobiças que não tem mais qualquer disfarce também por conta da proximidade com os Estados Unidos. Vantagens e trunfos que bem podem representar não mais que a face perversa da dita “maldição do petróleo”.

Um processo de dominação bastante antigo, mais disfarçado quando os governos locais eram dóceis aos interesses norte-americanos, e jogo aberto, escancarado na realidade a partir do momento em que o bolivarismo chegou ao poder e abriu a guerra que não parece ter fim ao nacionalizar reservas de petróleo. Tudo o mais foi consequência e nem mesmo acusações mais recentes de que suposto combate à produção e tráfico de drogas moveriam os ataques em que forças dos Estados Unidos estão diretamente envolvidas, bastaram para ocultar a verdade. Aliás, agora admitida pelo próprio presidente Donald Trump que, depois de tentar bloquear o tráfego de petroleiros transportando óleo venezuelano, acabou revelando seu verdadeiro interesse.

Nada a ver com apreço à democracia ou liberdade, nada que respalde a ideia de que forças estariam sendo mobilizadas para defender a população venezuelana e derrubar um ditador cuja imagem, é preciso lembrar, foi sendo paulatinamente desconstruída ao longo do tempo. Também o mais recente alegado combate às drogas e ao narcoterrorismo, não mais que apenas a desculpa para o processo de intervenção e estrangulamento em andamento, vai sendo reduzido à sua exata dimensão, inclusive para encobrir a ilegalidade da ofensiva, seja no plano interno, seja perante o direito internacional.

Nada mais nada menos que uma grande farsa, exibição de arbítrio e prepotência que o mundo inteiro deveria acompanhar com mais atenção e evidente preocupação. Princípios da não intervenção que se presumiam consagrados estão sendo violados sem disfarce, sem qualquer indicativo de que o devido processo legal esteja sendo considerado e respeitado. Apenas a força falando mais alto para tentar usurpar direitos e impor interesses que não são legítimos. Agora ameaças, ataques, à Venezuela, mas também um padrão diante do qual será mais e mais difícil impor limites.

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