Editorial

A mentira da autossuficiência na produção de petróleo do Brasil

País ainda é dependente do mercado externo por não ser capaz de processar e refinar todo o óleo bruto consumido nos transportes e em atividades industriais
A mentira da autossuficiência na produção de petróleo do Brasil
Crédito: Guilherme Bergamini

Alcançar autossuficiência na produção de petróleo foi, para o Brasil, sonho durante muito tempo tido como delírio, algo bem próximo, cabe recordar, de muitas reações diante da possibilidade de extração em águas profundas, hoje fonte da maior parte dos 3 milhões de barris produzidos diariamente pela Petrobras. Este salto, feito que veio também confirmar a presença marcante da empresa na indústria global de petróleo, ainda assim não bastou para assegurar ao País condições para prover todas as suas necessidades no que toca ao suprimento de combustíveis fósseis. Prossegue a dependência externa porque o País ainda não é capaz de processar, refinando, todo o óleo bruto consumido nos transportes e em atividades industriais.

Foi um erro estratégico de altíssimo custo, inclusive por conta da imposição, igualmente equivocada e em parte já superada, da paridade de preços nos mercados interno e externo. Há que mudar, há que redirecionar investimentos da Petrobras, concentrados em prospecção e extração, para a área de refino, com modernização e expansão das unidades existentes, como a Refinaria Gabriel Passos em Betim, além da construção de novas refinarias.
Em resumo, exatamente o oposto do que vinha sendo feito, especialmente no que toca ao programa de privatização, cujos resultados desnudam os erros cometidos.

São fatos e não conclusões ditadas por quaisquer tipo de viés. Em passado ainda recente, três refinarias foram privatizadas sob o argumento de que tal movimento favoreceria a concorrência, com ganhos para o consumidor. Não foi o que aconteceu, sendo bastante lembrar que nenhuma das três opera a plena carga. A maior delas, Mataripe, na Bahia, chegou a operar à metade de sua capacidade e praticando preços, em média, 8% maiores que os da Petrobras. Para o gás de cozinha, crítico para a população de baixa renda, os preços são até 40% maiores. As outras duas unidades, localizadas em Manaus e no Rio Grande do Norte, não refinam um único barril de petróleo. A unidade de Manaus, vendida no final de 2022, hoje funciona apenas para tancagem, enquanto a refinaria do Rio Grande do Norte, vendida em meados de 2023, está parada.

São fatos que não deveriam ser encobertos pela indiferença, muito menos pelo esquecimento. Caberia, sim, investigar como e porque o País foi prejudicado, no elementar exercício de identificar quem ganhou e quem perdeu, e assim cobrar de quem defendeu e patrocinou decisões equivocadas à conta dos prejuízos pelos quais todos os brasileiros estão pagando. Ou, simplesmente, lembrando que a mentira tem pernas curtas.

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