Editorial

Minas Gerais anuncia uma grande liquidação com a lista do Propag

Lista conta com 343 imóveis, como a sede do Automóvel Clube, Palácio das Artes e Colégio Estadual Central
Minas Gerais anuncia uma grande liquidação com a lista do Propag
Foto: Henrique Chendes

Os absurdos que se acumulam na história recente do País produziram uma espécie de entorpecimento coletivo que tanto anula a capacidade de reação, de simples indignação, como faz tudo parecer natural e, assim, também aceitável. Nessa condição, devem ser incluídas informações repassadas à Assembleia Legislativa e relativas às providências que vão sendo tomadas para que o Estado possa aderir ao Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados, o chamado Propag. Especificamente, e atendendo demanda de deputados, a lista de imóveis que seriam transferidos à União, ajudando a abater parte do principal da dívida do Estado e assim a carga de juros.

Da sede do Automóvel Clube passando pelo vizinho Palácio das Artes e pelo Colégio Estadual Central, uma das joias da arquitetura de Oscar Niemeyer, até chegar à Cidade Administrativa, da lista de 343 imóveis constam ainda o Minascentro e o Expominas, não faltando sedes de escolas estaduais e até o Hospital Risoleta Neves. Os mais atentos observadores certamente notaram que o Palácio da Liberdade, cujo amplo terreno certamente se prestaria à construção de um grande condomínio, foi poupado. Um gesto talvez simbólico, mas sem serventia, posto que se consumada a transação pretendida, completada com entrega também de empresas como Cemig, Copasa, Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais e até a Universidade do Estado pouco restará do setor público mineiro, assim fazendo de sua sede algo de completa inutilidade.

E tudo isso para que dos R$ 170 bilhões, alegadamente o montante da dívida do Estado junto à União, possa ser refinanciada ao longo de 30 anos, com a vantagem aparente de redução de até 40% sobre o total, conforme a generosa oferta contida no tal Propag. Ele também, a rigor não mais que uma obra de ficção, destinada a salvar as aparências e sem que ninguém tome a sério a perspectiva de que os termos pactuados sejam efetivamente cumpridos. Num caminho já percorrido e assim bem conhecido, mesmo que a atual negociação avance, outros acordos virão, porém sem a possibilidade do atrativo da oferta de ativos como acontece agora. E tudo sem pelo menos o risco de que futuros governadores fiquem sem teto, o que não é muito, mas contribui para salvar aparências.

No início deste comentário foi dito que a sucessão de absurdos provocou no País algo como um entorpecimento coletivo e que claramente se repete no caso em tela. Nada enfim que possa lembrar as melhores tradições de Minas Gerais, aquelas que se perderam, nada sobrando para a grande liquidação agora anunciada.

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